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Uma pergunta que ecoa nas ruas

Atualizado: 2 de jun.

ONDE ESTÃO AS MULHERES NAS BATALHAS DE RIMA EM SERGIPE?


(Foto: Gasú)
(Foto: Gasú)

Como estamos percebendo — e tratando — a evasão e resistências das MC’s  mulheres nas rodas de freestyle sergipano? Mesmo na linha de frente do hip-hop em Sergipe, muitas mulheres MCs acabam se afastando gradativamente — e de forma conjunta — dos espaços das batalhas de rima. O que percebemos é um movimento cíclico e repetitivo, com um padrão que se desenha mais ou menos assim:


Estímulo inicial > Iniciativa conjunta > Movimentação gradual > Ocupação > Ruptura > Evasão.


Fatores como a falta de continuidade e constância no incentivo (geralmente promovido apenas por coletivos e frentes formados por mulheres), a insegurança de se posicionar de forma individual, o machismo estrutural e a falta de acesso (por questões como distância, horários, dupla/tripla jornada de trabalho e maternidade cansativas), são elementos que nos levam até a ruptura — o momento em que uma ou mais mulheres decidem se retirar desses espaços. (evasão)


A evasão não é ausência — é resistência silenciosa


O problema é que; não somos ausentes, estamos e sempre estivemos ativas dentro do movimento, algumas ainda frequentando e ocupando os espaços das batalhas, fotografando, filmando, apresentando, organizando e até recitando poesias nos intervalos, outras organizando eventos independentes, participando de fóruns, estruturando, lapidando, criando, divulgando… etc 


É um grito que ecoa fora dos palcos.  


“A evasão das batalhas é, muitas vezes, uma resposta à exclusão social de mulheres e mães, à falta de segurança emocional e a violências estruturais. Essas mulheres não desapareceram. Estão ali — em outros papéis — muitas vezes essenciais para o movimento.” 


Essa reflexão vale não apenas para a cena sergipana, mas para toda a cena Nacional de Freestyle. É um espelho dos papéis de gênero que atravessam a sociedade como um todo, e um chamado à responsabilidade coletiva de acolher e incentivar essas vozes. Pensa comigo, se essas mesmas mulheres que criam, estruturam, organizam, apresentam e produzem à cultura não estão por algum motivo ocupando e protagonizando também as rodas de rima, significa que algo está errado ou que não estamos dando prioridade a essa pauta como deveríamos. 


É hora de repensar as estruturas das batalhas


Hoje em dia, faz parte do regulamento de grandes competições de freestyle, reservar 2 a 4 vagas para mulheres e pessoas LGBTQIAPN+ nas batalhas (dependendo do número total de MCs), mas em Sergipe, onde o número de MC’s de batalha - no geral - já é menor em relação a outros estados do Nordeste, esses corpos dissidentes deveriam estar presentes em quase toda batalha que rolasse. Será que reservar vagas é o máximo que podemos fazer? Como tornar esses espaços verdadeiramente inclusivos?


Avanços Recentes: 


Pela primeira vez, no ano de 2025, tivemos a construção de um Circuito Estadual Feminino de Freestyle fomentado e organizado pelo Coletivo Bueiro em conjunto com a Frente Estadual de Mulheres no Hip Hop de Sergipe (FNMH2se). A final estadual levou a representante Anabê da cidade de Nossa Senhora do Socorro (SE) para o Nacional Feminino, organizado pela Frente Nacional, em Salvador -BA. 


Nas duas primeiras seletivas tivemos dificuldades para fechar o chaveamento, muitas mulheres que mapeamos e acionamos não conseguiram ou não puderam ir, mas no final do circuito escalamos 8 nomes para a grande Final: Anabê, Lena, Luaz, Magoot, NInaSelva, Catarina, End e Sapatonatona protagonizaram as batalhas mais emocionantes das seletivas e foram as classificadas para a grande final Estadual, que ocorreu no dia 26 de abril no Espaço Mulheres Arteiras, no Marcos Freire II. 


Se isentando de competir e abrindo espaço para nova geração, Manu, Mali e Dany Bruxa, ficaram na missão importantíssima de serem juradas e mestres de cerimônia das seletivas e do Estadual. Ta aí um dos motivos da importância da presença e da manutenção desse cenário feminino pelas mulheres que movimentam o hip hop a mais tempo.


A produção e execução durou quase dois meses. Nesse processo, compreendemos que enfrentar a escassez de MCs nas ruas exige garra, constância, estratégia e comunicação, tanto com o público masculino de batalhas de rima quanto com as próprias mulheres do movimento Hip Hop. Grande parte dessas mulheres que fazem Freestyle em Sergipe, também são mães e/ou fazem dupla jornada de trabalho e estudo, o que dificulta ainda mais a presença delas nas ruas. 


Não basta reconhecer o problema — é preciso agir


A evasão das mulheres MCs nas batalhas de rima sergipanas é resultado de uma série de exclusões históricas e estruturais. Mas há caminhos. E eles passam pela escuta ativa, pela reorganização dos espaços e horários e pela construção de uma responsabilidade coletiva.

Algumas ações que podem transformar essa realidade:


  • Criação de núcleos de escuta e acolhimento nas batalhas.

Espaços para ouvir diretamente as mulheres — o que elas sentem, pensam e desejam. Não é sobre falar por elas, é sobre garantir que sejam ouvidas.

  • Revisão dos formatos das batalhas.

Muitos eventos e batalhas acontecem em locais e horários inviáveis para quem lida com jornada dupla ou maternidade. Pensar horários mais inclusivos, locais e  jurados que não reforcem estigmas ou fortaleçam ambientes opressores. 

  • Oficinas e rodas de formação só para mulheres e LGBTQIAPN+.

 Criação de espaços seguros de aprendizado, troca e experimentação.

  • Incentivo à criação de coletivos femininos e mistos, com protagonismo real.

Onde as decisões não são apenas consultadas, mas construídas junto.

  • Critérios de participação que não se limitem à “reserva de vaga”.

Políticas afirmativas devem ser parte da estrutura do evento, não um “agrado simbólico”.

  • Valorização das trajetórias que existem fora dos palcos.

Nem toda MC precisa estar rimando num X1. Existem outras formas de fazer batalha, de fazer presença, e de dar espaço e voz. 


Esta pesquisa é uma provocação. Uma semente. Quer conversar ou colaborar com essa iniciativa do Minas no Free Minas no Front? Siga o instagram do nosso Coletivo ou nos mande uma mensagem. [@coletivobueiro] 


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Lena tem 22 anos, é trancista e dreadmaker do bairro Eduardo Gomes em São Cristóvão. Mãe atipica e afroempreendedora, entrou no movimento hiphop em 2022 inicialmente como apreciadora da cultura urbana e do freestyle e 2 anos depois adentrou o Coletivo Bueiro como comunicadora visual, social media e aspirante a jornalista












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