top of page

Slam do Mangue leva diversidade e resistência ao bairro 17 de Março

Atualizado: 22 de ago.

Foto: Pritty Reis
Foto: Pritty Reis

No último sábado, 16, o bairro 17 de Março, localizado na periferia de Aracaju, foi palco de diversidade e de resistência. Mais uma edição do Slam do Mangue reuniu poetas da comunidade para reafirmar a potência da arte periférica como espaço de diversidade, de resistência e de orgulho. Dessa vez, a ação foi realizada em parceria com a ASTRA - Direitos Humanos e Cidadania LGBTQIA+ como parte do circuito da parada LGBT+. 


Criado em 2018 com a colaboração da juventude dos bairros Santa Maria e 17 de Março, o Slam do Mangue promove oficinas, palestras e intervenções artísticas. Inspirado em outras iniciativas nordestinas, o coletivo consolidou sua identidade a partir do território, evocando o ecossistema do manguezal como símbolo de resistência. Seu grito “A poesia lava a alma para não escorrer meu sangue”, traduz a força política da palavra falada.


Para Sabá, produtora cultural e uma das idealizadoras do projeto, trazer o slam para o circuito LGBT+ foi uma forma de visibilizar corpos que muitas vezes são silenciados dentro e fora da periferia. “Assim como corpos pretos e periféricos, corpos LGBTs também são invisibilizados. Essa edição mostra que estamos aqui, produzimos arte e precisamos ser vistos”. 


Foto(orokana_photo)
Foto(orokana_photo)

A edição contou com a presença de mulheres do bairro, pessoas trans, não-binárias e bissexuais. Entre elas, a  cantora, dançarina e compositora Lauryn Martins. Moradora do Santa Maria, Lauryn comandou o Pocket show demonstrando bastante presença de palco e ousadia. Sabá, que além de produtora é também poetisa, destaca que a expressão artística deve ser um lugar de encontro e união. “A gente se encontra na poesia, a gente se encontra na arte, a gente se encontra em diversas movimentações que a gente faz e a gente precisa fazer essa movimentação dentro da periferia também”.


Lauryn Martins é artista, dançarina e coreógrafa. (Foto(orokana_photo)
Lauryn Martins é artista, dançarina e coreógrafa. (Foto(orokana_photo)

Diferente das anteriores, esta edição teve como fio condutor a temática LGBT+. A maioria dos participantes eram pessoas da comunidade, e as poesias refletiram vivências que emocionaram o público.“A gente sente o que foi externado em cada poesia”, destaca Luanny Joana, estreante na produção. Luanny ainda conta que passar por todo o processo da correria de montar tudo e depois ver acontecendo é uma sensação incrível.


O poeta Taylor de Souza(Pinn) destaca que competir ao lado de amigos tornou o Slam ainda melhor. “O Slam do Mangue é muito foda. Achei que minha performance foi melhor que nas outras vezes, mas arrisco a dizer que foi por causa da presença da minha amiga Irawô. Ela competiu comigo numa oficina do Projeto Sankofa que foi onde a gente encontrou a poesia de Slam. Sempre chamei ela pra me acompanhar e competir, mas ela não ia, no geral somos mais ocupados porque estudamos integral, mas a arte da poesia sempre esteve com a gente”,afirma.


Irawô nunca tinha competido profissionalmente. Ela descreveu a sensação como única. “Lutamos diariamente pelo nosso lugar e a poesia abriu uma porta que quero levar para a vida toda.” Para ela, cada edição é singular, mas esta teve um peso especial por abordar uma temática muitas vezes silenciada e por permitir a troca com outres poetas. “Foi emocionante dividir o espaço com pessoas maravilhosas. Nossas vivências são diferentes, mas todas carregam marcas de luta. Não podemos nos calar nem deixar que nos diminuam. Sou muito grata ao Slam do Mangue por me mostrar que podemos chegar onde quisermos”.


Fotos(orokana_photo)


A campeã da edição foi Negasô (Sofia da Silva), que começou sua trajetória no próprio Slam do Mangue. Ela contou que a vitória foi uma surpresa. “É um misto de emoções. A gente chega confiante, pensando que vai recitar tranquilo, mas na hora bate a tremedeira, o nervosismo, o frio na barriga, a voz até trava. Quando ouvi que fiquei em primeiro lugar, pensei: sério isso? Errei tantas vezes... mas fiquei em primeiro lugar! Foi maravilhoso”.  Ela se refere ao Slam como um espaço de acolhimento e reconhecimento coletivo.


“Você percebe que não está sozinha, que outras pessoas já passaram pelo que você passou e entendem o que significa impor a sua voz”, diz Negasô. (Foto: Pritty Reis)
“Você percebe que não está sozinha, que outras pessoas já passaram pelo que você passou e entendem o que significa impor a sua voz”, diz Negasô. (Foto: Pritty Reis)

O evento contou ainda com apresentações do grupo de percussão Baque Mulher e da cultura ballroom, movimento artístico e cultural LGBT+ surgido nos anos 1980, caracterizado por bailes estruturados em batalhas de performance. No Slam do Mangue, essa estética se somou à poesia para reforçar o empoderamento de pessoas LGBT, negras e periféricas, oferecendo a possibilidade de se enxergarem como referência e até mesmo como realeza.


Para Miss Mangue, o ballroom rompe com padrões eurocêntricos e valoriza a autoestima da comunidade. “Vivemos em um sistema neoliberal e capitalista, em que arte e beleza são sempre colocadas dentro de um padrão normativo. O ballroom surge como espaço de expressão da identidade e da beleza periférica e negra, permitindo afirmar quem somos, caminhar de cabeça erguida e reivindicar nossa existência”.


”São momentos de refletir sobre identidade e autoestima, mostrando que é possível fazer aquilo que muitas vezes a sociedade acredita que não conseguimos”, diz Miss Mangue. (Fotos orokana_photo)


Baque Mulher é um movimento cultural que utiliza o maracatu de baque virado como ferramenta de empoderamento feminino e resistência social. (Fotos Pritty Reis)


Por Tatiane Macena


IMPORTANTE

Não recebemos verbas de governos. Se puder, apoie o jornalismo local com qualquer valor. Pix: perifericosjornalismo@gmail.com

Comentários


PERI_FÉRICOS__8_-removebg-preview.png

Nosso jornalismo é feito de dentro para dentro e dentro para fora. Aqui, as pessoas têm não somente nomes e funções, mas também características e sentimentos, individuais e coletivos. Mande a sua sugestão de pauta para perifericosjornalismo@gmail.com

bottom of page