Mulheres com deficiência também desejam e merecem ser desejadas
- Vozes do Santa
- 1 de set.
- 3 min de leitura

Alguém ainda usa o dicionário? Por curiosidade, já procuraram o significado de deficiência? “Perca da quantidade ou qualidade”, essa é a resposta que você encontrará. Mas, será que alguém com deficiência torna-se algo sem valor, já que houve perda da “qualidade”? Tornam-se insuficientes e incapazes? Muitas perguntas, poucas respostas.
Já parou para pensar em como os corpos de pessoas com deficiência são estereotipados de uma forma que acham que eles não sentem desejo e de que não são dignos de serem desejados? Já sabemos que o desejo masculino pelos corpos femininos “normais” é ovacionado aos quatros cantos, mas as mulheres com deficiência como são vistas por eles? Muitos homens nutrem uma visão de inferioridade sobre as mulheres com deficiência, além disso desconsideram que elas sentem prazer sexual e as colocam no lugar de não merecedoras do prazer. Mas, elas podem expressar sua sexualidade de forma prazerosa, sim!
Um evento lamentável recente ajuda a compreender como a mulher com deficiência é vista, não só pela sociedade, mas também, na visão do “homem”. Circulou nas redes sociais um vídeo de um motorista de aplicativo, que gravou, sem consentimento, uma passageira que solicitou uma corrida para um motel. No vídeo claramente nota-se o capacitismo não só em sua fala, como também na intenção quando ele gravou as imagens dela para evidenciar sua condição física. “É menino… a “negada” não dispensa nada não, viu? pensando que dispensa, dispensa é porra” Sua fala é repugnante, preconceituosa e a inferioriza como mulher por sua deficiência. De onde vem tanta crueldade? Por que a imagem da mulher com deficiência não é vista com um corpo desejado, sexy , atraente e que é capaz de sentir prazer?
As mulheres com deficiência também desejam, também sentem vontade, fazem sexo. Essa imagem estereotipada precisa acabar, uma deficiência não deve ser usada como parâmetro do que é belo, desejável, e muito menos de quê não deve sentir prazer. Temos sentimentos, nós amamos, nós odiamos, não somos um robô programado para agir como convém ao outro.
Um ponto importantíssimo, que deve ser levantado aqui também, é como se usar a deficiência como chacota e gozação quando alguém demonstra interesse por uma pessoa com deficiência. Dói, dói quando não podemos ter uma vida social normativa e ser a todo tempo subjugada por sua condição, ter seus corpos e seu desejo como pauta do ridículo para arrancar risos.
É perverso. É deprimente saber que uma mulher com deficiência só se deve ser desejada apenas no oculto, como se fosse proibido, algo errado em amá-la e desejá-la. Ter uma deficiência não a torna menos mulher. Porque uma mulher dona de si, independente e empoderada não pode ir a um motel, algo comum, que muitas pessoas vão? Só por ser diferente das demais? A sociedade não reconhece uma pessoa com deficiência como um ser capaz e digno do prazer. Ainda sua imagem é associada ao errado e ao pecado. Não é vergonhoso você sentir atração em uma pessoa com deficiência. Elas também são humanas e o prazer está na carne, não na deficiência. Diga não ao preconceito, diga não ao capacitismo. E diga sim ao amor, ao sexo e ao prazer. Lembrando que, capacitismo é configurado como crime.

Sobre a autora
Jornalista formada pela Universidade Federal de Sergipe, Jane Miranda tem 27 anos, é baiana e também reside em Sergipe. Por ser uma mulher com deficiência e sentir na pele as consequências de viver numa sociedade capacitista, a mesma tenta trazer pautas que trabalhem à valorização dos corpos com deficiência, principalmente, corpos femininos. Apaixonada pelo fotojornalismo, Jane pretende criar um projeto fotográfico voltado apenas para mulheres com deficiência, com o intuito de ressignificar essa visão que aflige a capacitação (física e social) das mesmas.
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