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ESTRATÉGIAS DE SOBREVIVÊNCIA EM MEIO À PRECARIZAÇÃO

(foto: Monise Mendonça)
(foto: Monise Mendonça)

A comunidade desperta aos batuques dos pincéis. O sol ainda não tocou os cobogós da janela, e já tem gente arrastando mala pesada pelo chão frio de cimento. Aqui, muitos de nós vivem na contramão da vida artística: trocamos o cortejo das noites pela urgência dos poucos espaços de arte e cultura que se abrem durante o dia. 


Ser artista na periferia de uma cidade do interior exige certa insistência. É viver entre dois pólos, entre bairros que se encostam, mas raramente se misturam. Para quem está longe dos grandes centros, a arte quase sempre passa despercebida, como se o direito de pertencer fosse um bem de luxo, vendido e apreciado apenas a quem pode pagar por ele.   


Quando raras exceções acontecem, surge sempre aquele burburinho: “E agora?”, “Será que podemos?”, “Como criar as conexões certas?”, “Será que aceitam trabalhar comigo?”. A falta de uma rede  de apoio nos coloca diante de um verdadeiro labirinto em que o projeto existe, mas a ponte até sua realização quase nunca está construída.


Damos um salto no escuro, entre a tentativa e o erro, confiando mais na intuição de que nossos trabalhos serão aprovados pelas leis de incentivo à cultura do que na garantia de algum retorno financeiro positivo. E mesmo assim, seguimos porque acreditamos que a arte, como já dizia Bertolt Brecht, “todas as artes contribuem para a maior de todas as artes: a arte do viver”. É através do fazer artístico que colocamos a vida em movimento, mesmo que os escassos recursos públicos insistam em deixá-la à mercê da sorte do improviso. 


Como artista sancristovense que ama e respira a cidade-Mãe de Sergipe, escrevo não como observador de um cotidiano, mas como alguém que vive essa realidade em transe. Entre o sonho e o concreto, busco atravessar a precariedade por entre as brechas, transformando toda escassez em potência criativa. Inventando uma arte carregada de sentidos, junto de gente que comunga dos mesmos desejos: ocupar os espaços públicos que nos  cabem e que são de direito.


SOBRE O AUTOR:


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Luciano Gomes é ator, educador artístico e dramaturgo da cidade de São Cristóvão/SE. Graduando em Teatro pela Universidade Federal de Sergipe e membro da Academia Sancristovense de Letras e Artes (ASCLEA), fundou o Núcleo Mutamba, onde desenvolve projetos que unem memória, identidade e territorialidade. Com 06 anos de atuação profissional no setor cultural, assina espetáculos premiados como Divinos Restos de Lembranças (2021), Mistério do Algodão (2021) e roteiros de curtas como Catatau (2021), além de oficinas educativas como Teatro & Cotidiano (2021). Sua trajetória é marcada pelo compromisso com a formação artística e pelo fortalecimento da cena cultural no interior sergipano.


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