Uma promessa do hip-hop sergipano
- Lenice Ramos

- 11 de jul.
- 3 min de leitura
Com rima, ancestralidade e atitude, Anabê de apenas 16 anos, é uma potência do Hip Hop sergipano

Anna Beatryz Correia Teles, mais conhecida como Anabê, vem se consolidando como uma das vozes mais potentes da nova geração do hip-hop em Sergipe. Moradora do bairro Cirurgia, em Aracaju, e nascida em Nossa Senhora do Socorro, Anabe é mais do que uma artista: é uma vivência em movimento. Estudante, trancista, poetisa e MC, ela transforma sua ancestralidade, suas dores e sonhos em versos que ecoam nos palcos e nas batalhas de rima.
A trajetória artística de Anabê começou cedo. Aos 15 anos, a artista entrou na cena do slam e do hip-hop movida por uma paixão que queimava no peito desde que começou a escutar e assistir batalhas de rima. “Esse espaço sempre foi nosso. Me confortava, me acendia. Entendi que precisava de mais gente como eu dentro da cultura, e que eu fazia parte disso”, conta a jovem.
Se 2024 e 2025 pudessem ser definidos em uma palavra, seria libertação. Nesse período, Anabe fez sua primeira viagem para fora de Sergipe, levando sua arte e sua voz além das fronteiras. “Foi uma prova pra mim mesma de que não posso duvidar do que é meu. Representar Sergipe no Festival Nacional de MCs (FNMH) foi desafiador, mas necessário. Na volta pra casa, eu entendi que merecia estar ali” relata a artista.
Primeiro grande passo
Em um movimento inédito e coletivo, quatro batalhas seletivas femininas foram organizadas em Sergipe para garantir a participação de uma MC representante no Fórum Nacional de Mulheres no Hip Hop, realizado na Bahia. As seletivas ocorreram em diferentes territórios: na Batalha do Bueiro, na Roda de Opinião (RO), na Roda da Juventude e na Batalha do Amor, no bairro América. Apesar da presença ainda reduzida de mulheres que rimam com constância na cena local, algumas delas seguem firmes na organização dos eventos, atuando em um duplo corre que evidencia o protagonismo feminino no hip hop sergipano.

A articulação com o circuito nacional inicialmente esteve sob responsabilidade da Frente Sergipana de Mulheres no Hip Hop. No entanto, para garantir a realização das seletivas, o coletivo Bueiro assumiu a linha de frente, organizando a chamada para as MCs por meio de um formulário online e conduzindo reuniões internas para definir o formato mais justo e participativo. A decisão foi clara: o protagonismo seria feminino tanto na organização quanto no chaveamento das batalhas, mesmo que organizadoras precisassem rimar para completar o circuito com o número mínimo de participantes (entre 6 e 8 MCs).
O processo culminou com uma batalha especial realizada durante o Fórum Estadual de Mulheres no Hip Hop, que serviu como preparação para o evento nacional. Foi nessa ocasião que a MC Anabê foi oficialmente classificada como representante de Sergipe, em uma escolha feita de forma democrática e conectada com a realidade das batalhas, ao contrário de alguns estados que optaram por indicações diretas. A iniciativa reforça a importância de criar espaços estruturados e autônomos para as mulheres no hip hop, não apenas como artistas, mas também como produtoras e articuladoras culturais.
Estudante do 2º ano do ensino médio, ela divide sua rotina entre os estudos, a arte e o empreendedorismo. Trancista dedicada, transforma fios em expressões de identidade e autoestima, enquanto também se destaca no desenho, utilizando o lápis como ferramenta para dar vida às suas ideias e sentimentos. Sua atuação vai além da escola, refletindo criatividade, força e autonomia desde cedo.
Sua vida artística é também uma jornada espiritual. “Tenho vivido um reencontro com minha ancestralidade. Tento expressar isso na minha arte como MC, cantora, poetisa, e em tantos outros caminhos que ainda quero trilhar”, afirma. Anabe é o reflexo de uma juventude potente, que encontra no hip-hop um lar, uma trincheira e um altar. Como ela mesma diz com orgulho: “Hip-hop salva.”

Texto: Lenice Ramos
Supervisão: Viviane Silva
Importante:
A nossa sobrevivência depende exclusivamente do apoio daqueles que acreditam no jornalismo independente e hiperlocal. Se você tem condições e gosta do nosso conteúdo, contribua com o valor que puder.







Comentários