“Sonho que muitas pessoas conheçam meu trabalho.”
- Viviane Silva
- 5 de jun.
- 4 min de leitura
Rosalyn e muitas mulheres veem no empreendedorismo uma forma de sonhar e serem reconhecidas

Moradora do bairro Rosa Elze, localizado em São Cristóvão, região metropolitana de Aracaju, Rosa, como prefere ser chamada, tem 47 anos e é mãe solo. Ela tem formação técnica na área de radiologia, porém nunca exerceu a profissão e hoje atua como microempreendedora informal. Ela começou a venda de doces e salgados em 2019 na Universidade Federal de Sergipe (campus São Cristóvão). Após um ano de vendas, chega a pandemia e a empreendedora, assim como muitos microempreendedores que não têm recursos extras, ficou um tempo parada.
Diante da situação, Rosa sempre teve ajuda financeira dos pais, mas também fazia seu “corre”, sacudiu a poeira e se envolveu em novas experiências de trabalho, porém não abandonou o ofício de vender doces e salgados, continuou, só que nas ruas, quando algumas regras da quarentena ficaram flexíveis. Ao passar as ondas extremas do Covid19, às aulas da UFS retornam de forma presencial. A empreendedora, que antes vendia na entrada da universidade, retorna em um novo ponto de vendas: o pátio do restaurante universitário. O alto fluxo de alunos naquele espaço foi motivo para a escolha.
Em uma mesa de plástico, forrada com uma toalha de mesa colorida, Rosa expõe seus produtos, dentro de uma caixa térmica e de pequenos expositores. A clientela se delicia com mini empadinhas, beijinhos e brigadeiros. Além disso, em dias mais quentes tem a opção dos geladinhos gourmet, tudo feito por Rosa, que quando começou a produzir foi no instinto, de acordo com o que aprendeu na vida. “Eu já nasci com o dom, e o dom foi sendo aperfeiçoado, também fiz alguns cursos on-line”, relata a empreendedora.

Quando tudo começou
Antes de começar a empreender, a vendedora teve diferentes tipos de trabalho, boa parte com carteira assinada. Depois de anos no seu último emprego, na área de telemarketing, mesmo tendo seus direitos assegurados pelas leis do trabalho e ter sua segurança financeira estável, decidiu pedir demissão e começar uma nova jornada, pois aquele trabalho que garantia uma renda fixa, também era um espaço de muitas cobranças e pressão para bater metas, a levando a um colapso, pois sua saúde mental.
“No passado estive em um trabalho que me desencadeou uma crise de pânico e fiquei por muitos anos afastada. Daí a médica me sugeriu que eu trabalhasse pra mim mesma, e fizesse meu próprio horário, pois se eu voltasse pro mercado e tivesse mais pressão, iria regredir e teria mais crises”, desabafa.
Além dos problemas de saúde que seu antigo trabalho lhe acarretou, outro fato que incentivou Rosa a seguir para o mundo do empreendedorismo: o seu filho ter ingressado na universidade, através do curso de Publicidade e Propaganda. Naquele momento, em que seu único filho dava um passo importante, sua inspiração pulsou e percebeu que era a hora certa para pôr em prática o que sabia e conquistar sua independência e se tornar sua própria chefe.

A mãe que existe na mulher empreendedora
Para além do trabalho, ser mãe solo foi mais um desafio que Rosa enfrentou. Assim como muitas outras que trabalham como empreendedoras (ou não), Rosa sempre conciliou trabalho e estudos com a criação de seu filho, que hoje está formado num curso superior, mas dá uma “forcinha” na produção dos doces e salgados. Perfeccionista, apesar de, mesmo poder contar com essa ajuda em casa, ela prefere fazer tudo sozinha. “Ele ajuda bem pouco, porque eu gosto que seja tudo exato e sei que ninguém vai fazer como eu faço, então prefiro fazer sozinha”, explica.
Às vezes, a rotina exaustiva de trabalho pode desgastar relações familiares, afastar pais de filhos e acabar criando um abismo entre mãe e filho, por exemplo. No caso das mulheres que são mães solo, que além de trabalharem, precisam cuidar da casa e filhos, essa rotina tende a ter uma exaustão triplicada e afeta o relacionamento familiar. No entanto, a relação de Rosa com seu filho é boa e cheia de muita doação. “Ser mãe é ser exemplo, é se doar, abrir mão da sua vida, e tudo que você faz é colocaria o filho sempre em primeiro. Tudo que fazemos pensamos neles”, reflete Rosa.
Entre exaustão e sonhos
De segunda a sexta, sempre no horário do almoço, Rosa está na entrada do restaurante universitário, o sorriso no rosto esconde a exaustão que é produzir os doces e salgados, “Eu mesma vou comprar [os materiais], depois produzo e aí saio para vender. É bem cansativo,mas faço o que gosto, e faço meu tempo também” detalha Rosa, que mesmo com a jornada exaustiva, permanece trilhando o caminho que escolheu para sustentar a casa.
Empreender no Brasil é desafiador. Diversas burocracias jurídicas, falta de recursos para capacitações e entre outros percalços dificultam a vida do empreendedor brasileiro e sua permanência no mercado de trabalho. O desafio fica maior quando quem empreende é uma mulher e mãe solo, que é a realidade de Rosa e de muitas outras empreendedoras brasileiras, que além da dedicação ao trabalho, também se desdobram para cuidar da casa e de sua família. ,
Mesmo diante de inúmeros desafios e de uma jornada exaustiva, Rosa continua firme no seu sonho e pretende crescer no nicho que escolheu trabalhar. “Tenho o sonho de ter minha própria doceria, com brigadeiros e geladinhos gourmet. Quero ter saúde para continuar [no ramo] e incentivar outras mulheres a ter seu próprio sustento. Ir em busca, tirar do papel e pôr em prática os seus sonhos. Eu sonho que muitas pessoas conheçam o meu trabalho.” conta.

Por: Viviane Silva
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