Jovens do Santa Maria semeiam sonhos de artistas periféricos
Muito mais do que uma produtora de rap, o Santa Cena é uma iniciativa cultural, ou como os integrantes costumam chamar, uma banca que visa prestar apoio a artistas periféricos. Criada pelo diretor audiovisual Luan Allen e pelo rapper NG Lampião da Rima (Gabriel Rodrigues Silva Santana), em novembro de 2021, atualmente a comunidade incentiva nomes como Mali, Manu Caiane, NDS, Eufórico e o próprio Lampião da Rima.
Fruto de oficinas, Luan Allen chegou a estagiar na produtora Café com Guaraná, onde aprendeu a contar história com as imagens. Quando saiu de lá, fundou a produtora Fat Fingers. Um tempo depois de começar a produzir videoclipes no Santa Maria, Luan conversou com Gabriel, e juntos eles fundaram o Santa Cena. Em um curto espaço de tempo, Juliana Santos (Precioza) e Camila Anjos se somaram com os rapazes e ajudaram a construir a identidade do grupo.
Independentes, os jovens não têm ajuda de nenhum político ou empresa privada, eles contam com recursos próprios, muito trabalho e conhecimento para tocar o sonho de fazer com que a sociedade aracajuana e os próprios moradores do Santa Maria enxerguem a potencialidade do bairro. Diferentes e complementares, eles têm em comum a percepção da potência do Santa Maria, como espaço de criação cultural.
Pensando no empoderamento de pessoas periféricas, Luan Allen e NG Lampião da Rima criaram o Santa Cena. (Foto: @Somb)
O nome da banca é inspirado no movimento hip hop, que é conhecido como cena local. Então, os jovens fizeram a junção a fim de mostrar a cena do bairro Santa Maria, o Santa Cena. De acordo com os produtores, a relação entre os artistas incentivados e a organização é de parceria e companheirismo, pois diferente de uma produtora externa, o trabalho inclui o reconhecimento da realidade e das experiências dos envolvidos.
Para integrar o Santa Cena, os artistas precisam ser moradores de bairros periféricos, principalmente do Santa Maria, mas também do São Conrado, Castelo Branco e Bairro América. Outra coisa importante para a equipe, é que os artistas tenham consciência de racial e saibam como funciona a sociedade e a sua relação com as periferias.
Para saber mais sobre os organizadores do Santa Cena, sobre a atuação da banca e sobre a cena do Santa, o Periféricos conversou Luan, Camila e Precioza.
Periféricos - Vocês podem se apresentar e falar do começo no Santa Cena?
Luan - Eu sou Luan Allen, diretor de audiovisual de experiência. Não sou acadêmico, mas de experiência e de muito esforço diário. Sou diretor audiovisual e um entusiasta da música periférica. A minha linha do audiovisual é trabalhar com música. Gosto muito do lance da música periférica. No Rio de Janeiro toca o funk, no Recife toca o brega funk e em Aracaju toca o que? Eu tô nessa pesquisa trabalhando várias coisas. Nisso, eu já vinha me envolvendo com a música, com o hip hop principalmente, um rap através da Sede e depois comecei a trabalhar com NG [Lampião da Rima]. Nosso trabalho deu super certo, daí decidimos criar o Santa Cena.
“O Santa Cena, que vem desse sentimento de se empoderar”, Luan Allen Produtor audiovisual e fundador do Santa Cena.
(Fotos: Tatiane Macena e Fe.santos)
Precioza - Meu nome é Juliana, mas normalmente me apresento como Precioza. No Santa Cena eu comecei a utilizar as ferramentas que a academia me trouxe, enquanto cientista social. No primeiro momento fiquei ali naquela parte de escrever o conceitual e o que a gente representava de forma mais detalhada. Então, estudei sobre o lixão, que trouxeram para a gente, busquei entender o porquê a gente tá aqui, porque esse terreno foi escolhido, porque essas pessoas moram aqui, e porque a gente tem sido invisibilizado por causa disso. Com esses questionamentos, fui escrevendo o conceito do Santa Cena. O Santa Cena me trouxe de volta uma potência que eu não acreditava mais que existia em mim. Foi entre os meus, no Santa Maria, que eu consegui botar toda minha potência para fora. No início eu também contribui com Luan nas redes sociais, principalmente nas legendas e hoje faço mais produção.
Inspirada no conceito de territorialidade de Beatriz Nascimento, Precioza chegou a frase Terra Dura, terreno fértil.
(Fotos: Tatiane Macena e @boersnafot)
Camilla - Me chamo Camila Anjos, atualmente estou atuando como produtora executiva do Santa Cena. Dei uma pesquisada e vi que a produtora executiva faz tudo, administra desde o começo de uma produção de show, participa do processo todo, inclusive o administrativo. Nós três temos essas especificações. A gente se divide entre as tarefas e acaba realizando todas. Entrei no movimento hip hop através da política do movimento estudantil. Eu era militante e ingressei assim diretamente no hip hop através da Entre Becos, promovendo o Sarau de Quebrada. Não sei se já conhece, aconteceu há anos aqui no Santa Maria, ali de frente pro Banese. Tive uma base política na Entre Becos, mas foi algo superficial, desenvolvi toda a minha profissionalização no Santa Sena e da experiência que eu trouxe da Entre Becos.
“No Santa Cena estou conseguindo teorizar e colocar em prática as coisas que aprendi no Entre Becos e não consegui executar”, afirma. (Fotos: Tatiane Macena e @boersmatot)
Periféricos - Qual é o propósito do Santa Cena?
Luan - O propósito é ter protagonismo, claro que a proporção que queremos é o Nacional, que todo mundo saiba do que a gente está falando e entender a realidade que a gente expressa, pretendemos passar esse legado. Com o passar dos anos, queremos olhar para Aracaju e perceber tudo que foi construído. A gente trabalha 100% com pessoas periféricas de realidades distintas.
Camilla - O Santa Maria precisava de pessoas que desenvolvessem esse trabalho aqui em Aracaju. Não tem uma banca como nossa produtora no Santa Maria. Digamos que a gente desenvolve um papel importante também na criação de oportunidades. Pessoas como a gente não tem esse leque de possibilidades aberto quando a gente quer iniciar algum projeto. Então, se a gente não correr atrás e não meter as caras, fazer acontecer, não tem. Não acontece.
Precioza - Principalmente é nesse meio de rap que as pessoas precisam muito da ferramenta audiovisual, que hoje é uma ferramenta que se você for pagar é caro, para uma pessoa que não tem dinheiro, e o Santa Cena facilita isso. Para além do propósito da Santa Cena tem também o motivo de as pessoas entrarem no Santa Cena. Tem uma palavra que pega muito, que é vontade, a gente tem muita vontade e é por isso que as coisas acontecem.
A banca é 100% composta de artistas periféricos, de realidade parecida com a dos produtores. (Foto: @fe.santos)
Periféricos - Em algum momento, vocês já quiserem desistir?
Precioza - Eu nunca pensei em desistir, pode bater algum desânimo porque, as coisas não estão acontecendo, e vem aquela sensação de que a pessoa está parada, mesmo fazendo um bocado de coisa. Então, acho que por mais que a gente desanime, o estar no Santa Cena é tão enraizado que desistir não parece uma opção. Não porque a gente não possa desistir, mas porque estamos fazendo algo com o sonho de algumas pessoas. Acredito que bata o desânimo porque existe uma sobrecarga entre as pessoas que trabalham aqui, tipo nós fazemos tudo, inclusive na produção. Se tivesse alguém pra fazer isso, eu trabalharia só na moda e trabalharia na produção, na parte que eu trabalho hoje. Luan faz toda tarefa de mídia social, a gente também publica, mas ele que mais faz conteúdo mesmo e às vezes precisa parar para fazer outra coisa e não pode porque ele tem que fazer isso e não tem ninguém mais pra fazer. Eu acho que é por isso que bate também o desânimo.
Camilla - A opção de desistir, ela não é tão existente entre a gente não. É muito o que o Luan falou da sobrecarga que a gente sente. Sabemos que precisamos de um tempo pra descansar, pra colocar os dias no lugar. E fora isso nós somosum grande grupo, então quando está tudo bem, está tudo fluindo bem, mas quando rola uma briga, algum desentendimento entre um dos integrantes, isso toma o grupo todo e o gasto de energia é imenso e a responsabilidade de resolver fica toda nas nossas costas, mesmo não tendo problema que nos ligue diretamente a eles. Isso também é um sentimento que eu tenho que dá vontade de parar.
Luan - Vira e mexe tem aquele pensamento “caramba, toda hora aqui editando e sempre tem uma dor de cabeça que não era minha”. Mas no outro dia a gente acorda e continua, porque queremos investir e temos muitos projetos em andamento com vários artistas. E não seria nada profissional de repente desistir. O maior momento que eu pensei mesmo em parar ainda tinha seis meses de trabalho pra fazer. Eu disse “vou entregar isso e isso, depois dar um tempo para mim”.
Gabriel Santana, mais conhecido como Lampião da Rima, é um dos artistas do Santa Cena e também faz parte da produção.
(Foto: @fe.santos)
Periféricos - Mesmo com as dificuldades, o que faz vocês continuarem?
Precioza - O apoio das pessoas da banca, relacionado a minha saúde mental. Tenho alguns problemas e a maioria das pessoas sabem dessa minha fragilidade. Então eu sou muito acolhida na minha saúde mental. O que me faz continuar é esse acolhimento e amor.
Camilla - O sentimento de ser do Santa Cena. Eu não sei, nunca soube explicar isso pra ninguém. Quando eu falo é com orgulho, porque estou trabalhando pra fazer isso acontecer. E eu estou me juntando com os meus amigos pra realizar vários sonhos. E isso é o sentimento que me toma.
Luan - Esse lance de estar enraizada a necessidade do Santa Cena. Mas eu sei que em algum momento alguém vai se somar e suprir essa demanda, porque ninguém é insubstituível.
Periféricos - Vocês cobram alguma coisa para os artistas?
Luan - A gente não cobra nada. Tipo, NDS vai criar o EP dele, aí tem um processo inicial que não ia fazer parte do Santo Cena, aí teve um valor mas, a gente fez tudo com um custo baixo. Não vamos alugar um iate, nada impossível, mas somos criativos e procuramos algo que dialogue com a música. Mas, realmente, não é cobrado nada a nenhum artista do Santa Cena. Tem um produtor musical que é Eufórico, essa pessoa é incrível. E ele é muito bom trabalhando. Eufórico trabalha no Santa Cena e a gente faz um projeto, ele vai lá e produz, pinta, cria, ajuda a escrever tudo que é relacionado a música. Agora quando ele for não é um trabalho Santa Cena e ele está com várias coisas pra vender, ele faz com os artistas valores bem acessíveis. No meu trabalho com audiovisual, quando comecei a valorizar e me enxergar como tal, e a dialogar mais com artistas de periferia, vi que é impossível manter os preços ali na tabela.
Periféricos - Vocês conseguem um retorno financeiro, a partir do trabalho que vocês desenvolvem hoje?
Luan - Hoje conseguimos sobreviver, tem meses que são bons, outros nem tanto, mas é isso. É a vida de autônomo. A gente fez três edições do bate cabeça do Santa Cena. No primeiro e no segundo, tivemos um lucro pequeno. Esse [o terceiro], excepcionalmente, acho que por vários motivos que a gente levantou, a gente não conseguiu bater a meta mínima, mas acho que depende do público, da casa de show onde a gente faz, etc.
Graças ao trabalho desenvolvido pelo Santa Cena, vários artistas periféricos vêm se destacando na cena musical. (Foto: @Fe.santos)
Periféricos - Depois de um evento com retorno vocês ficam com um valor num caixa e depois distribuem?
Precioza - Na primeira vez que a gente teve o retorno, dividimos entre todos os artistas. Nas duas vezes na verdade. E na segunda vez sobrou um dinheiro que a gente botou em caixa e foi o valor que a gente fez as camisas pra rodar, mas não foi o que aconteceu e acabou ficando entre a gente.
Camilla - Tem um investimento mínimo na estrutura da cena, que a gente chama de ajuda de custo. Quando pagamos pelo menos o transporte no qual o artista foi até o evento ou algo que a gente conseguiu naquele momento. E a gente também proporciona comida para as pessoas que têm mais dificuldade.
Luan - O grande lance é que a gente se apoia como uma banca e uma família. Temos vários membros que se apoiam em tudo, mas isso limita entradas e saídas assim repentinas.
Periféricos - Alguém ou alguma situação já fez vocês se sentirem impotentes?
Luan - Várias vezes. Por coincidência, todos os brancos comigo. Tipo, no meu primeiro clipe escutei, pessoal comentando: ‘Rapaz, você viu como ele tava todo afoito e perdido. Por que você chamou ele pra fazer seu clipe?’ Quando escutei isso, pensei ‘realmente, já não sou diretor, pois não passei confiança’. Essa mesma pessoa outro dia foi me dar uma carona, chegou no Santa Maria, começou a fazer várias perguntas e falou, ‘vou te deixar por aqui mesmo. Tudo bem?’ Me deixou longe com câmera, com tudo. Em relação ao equipamento também, tem gente que não valoriza. No começo eu ficava com a T3I e diziam ‘aqui é Luan que está com a camerazinha brincando’, essas coisas desestimulam. Teve outro caso em que eu fiz uma campanha política e o marqueteiro que veio de fora queria porque queria que eu gravasse uma cena falando do Prefeito. Eu disse “não, não, tô aqui editando, sou editor”. E ele respondeu “você vai ganhar mais é lá, aparecendo, bora”. Eu neguei.
Precioza - Eu acho que isso está muito relacionado a nossa vivência com as pessoas negras, em uma sociedade super embranquecida. Então tipo, se Luan demorou anos para se ver diretor, eu demorei anos pra me dizer cientista social com o diploma na mão. Porque não é sobre a validação, é sobre uma coisa que foi introjetada na gente de não poder ocupar outros tipos de lugares, que não sejam lugares de trabalho comercial, por exemplo. Quando você se desloca desse lugar, se sentir impotente é se tornar um pouco de motor pra você reconhecer sua potência. Na universidade, apesar de hoje conseguir olhar com outros olhos, foi um momento muito doloroso para mim de negação, as pessoas lá tem muita hierarquia e me negaram muito o direito de escrever e de falar. Eu me sentia muito recuada.
Camilla - A sensação de impotência vem mais de como outras pessoas impõem isso a nós do que nós mesmos. Eu tenho vários exemplos assim, não sou graduada, mas estou extremamente profissional e me questionei se o que eu estava fazendo era certo. Uma das impotências é por não ser graduada, por não estar fazendo a faculdade na área de produção cultural. Também me sinto impotente quando outras pessoas, mesmo vendo o nosso trabalho, especificamente o meu e o de Juliana, como mulheres negras. Não nos veem como cabeça do Santa Cena, que pensam junto, que executam as mesmas funções de Luan e NG. Nos ignoram, não somos reconhecidas com a visibilidade dos meninos, minha impotência é essa. Mesmo sabendo que eu sou, que nós sonos foda.
Periféricos - Quando vocês finalmente compreenderam o tamanho do potencial de vocês?
Precioza - Foi o show de Mali no Fasc, nosso primeiro show de palco que foi 90% produzido pelo Santa Sena. Foi a primeira roupa que eu fiz. Bordei a blusa para ela, uma coisa totalmente de trabalho manual e ancestral. Ver aquilo no palco e o movimento bate aquele sentimento de “se eu quisesse falar mal de mim agora, não tinha como falar, porque está bom”. Foi bom. Ver a roupa produzida no palco funcionando foi o momento que eu entendi a potência do meu trabalho. Outro momento, foi quando construí o documento do Santa Cena, ali senti que eu tinha realmente as ferramentas para ser uma cientista social. Ultimamente eu tenho testado algumas coisas artísticas, então de alguma forma eu estou contribuindo com isso também.
Camilla - Comigo foi exatamente nesse mesmo show. Quando Mali nos convidou para produzir o show, a gente sabia que essa produção seria do Santa Cena. Para mim, foi uma virada de chave na mente. Quando eu me vi tratando com produtores maiores que tinham grandes experiências de festivais. Quando eu me vi correndo, resolvendo tudo e conseguindo a resolução daquilo com facilidade, pensei “meu Deus do céu, realmente sou produtora”.
Luan - No lançamento, a gente lançou um manifesto que teve muita repercussão, e é claro, visibilidade. Daí teve uma matéria do Acorde, que entrou em contato para gente fazer a entrevista depois de alguns meses a gente conseguiu sair no jornal e eu falei para um jornalista que trabalhei em uma campanha. “Como é que eu faço pra ir pra TV”? Aí ele falou, o que foi que aconteceu? Me diga aí e me manda uma foto, quando eu fui ver já estava lá.
Periféricos - Qual a importância de ter pessoas acreditando nos seus sonhos?
Precioza - As pessoas geralmente veem a produção como algo que o artista precisa muito, mas a produção também precisa de um artista. Então acho que hoje eles precisam tanto de mim na construção do sonho deles e eu preciso muito deles para construir o meu sonho, que, eu descobri, é trabalhar com artistas realmente, produzir, fazer arte, moda e eu só vou fazer isso se tiver junto.
Camilla - Mesmo fazendo parte do primeiro passo, o compartilhamento de ideias para ver tudo que estava acontecendo, eu ainda não me enxergava enquanto produtora, enquanto alguém que desempenhava essa função que é imprescindível dentro de uma banca. E os meus amigos, meus amigos produtores me fizeram enxergar dessa forma. Me fizeram enxergar a potência que eu tenho, a facilidade que eu tenho para me comunicar e para executar essa função e de certa forma, encontrar um caminho, que agora eu tenho certeza que eu quero seguir. Foi devido a esse apoio que consegui ampliar minha visão e agora me reconhecer enquanto produtora.
Luan - A todo momento ter as pessoas ao lado, no meio do caminho querendo entender, presentes, é fundamental, quando penso na minha trajetória, lembro da minha mãe quando comprou a minha primeira câmera. Eu estava ali alucinado e ela foi lá e fez o material. Ela, os professores da escola, meu padrinho de audiovisual, o Marcolino, quando me ensinou, o meu primo que ficava do meu lado quando eu tava editando, Preciosa, que sempre esteve presente, dando várias ideias, meu sogro e minha sogra, que fica felicíssima com os vídeos. De cabeça a gente nem se lembra , pois são muitas pessoas e todas elas são muito importantes nesse processo.
Veja um pouco do trabalho do Santa Cena no Youtube
Por Tatiane Macena
Importante:
Nós não recebemos verbas de governos. A nossa sobrevivência depende exclusivamente do apoio daqueles que acreditam no jornalismo independente e hiperlocal. Se você tem condições e gosta do nosso conteúdo, contribua com o valor que puder.
Kommentare