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“Eu tô aqui para falar e ser ouvida”

Conheça a história da arte-educadora Rayane Madeiro, inspiração periférica na arte e educação

Desde sua adolescência Rayane esteve ligada ao ativismo político através de movimentos e grêmios estudantis, o que possibilitou o aprimoramento de um senso crítico que está presente em suas poesias. (Foto: Arquivo Pessoal)
Desde sua adolescência Rayane esteve ligada ao ativismo político através de movimentos e grêmios estudantis, o que possibilitou o aprimoramento de um senso crítico que está presente em suas poesias. (Foto: Arquivo Pessoal)

Rayane Madeiro, de 26 anos, é moradora do bairro Marcos Freire 2, localizado em Nossa Senhora do Socorro, na região da grande Aracaju. Ela é uma, mas se desdobra em várias. Professora de letras-português, educadora social e pós graduanda em psicopedagogia, a jovem dá aula três vezes ao dia em diferentes instituições de ensino.


Durante sua trajetória como estagiária, teve experiência como a “tia da creche”, cuidadora de sala e de crianças autistas e também como assistente de coordenação e secretaria em uma escola. Hoje, continua se doando a educação, dá aulas de português para adolescentes, é educadora social em um instituto em Aracaju, e para completar a sua jornada intensa, atua como alfabetizadora de idosos durante o período noturno.


Além de ser uma profissional da educação, Rayane também é ligada ao mundo das artes e se desafia como atriz e poeta marginal. Suas poesias, que há muito tempo ficaram guardadas, hoje se juntaram às novas rimas e são expostas em batalhas de slams, onde ela se apresenta com o codinome Sapatonatona. A criação desse nome artístico surge das suas vivências como mulher lésbica periférica.


“Eu resolvi criar esse nome artístico (Sapatonatona) porque eu percebia que as mulheres lésbicas da periferia falam muito “sapatão”, “sapatona”. Então, resolvi colocar esse Sapatonatona na intenção de deixar mais forte esse “sapatona” que é muito usado.” Revela.


Das redes sociais ao slam

Ainda na adolescência, Rayane  já escrevia sobre suas experiências de vida, e expressava suas dores e anseios através da caneta e do papel.  (Foto: arquivo pessoal)
Ainda na adolescência, Rayane já escrevia sobre suas experiências de vida, e expressava suas dores e anseios através da caneta e do papel. (Foto: arquivo pessoal)

A experiência da artista com slam é curta; sua primeira apresentação aconteceu em 2024, antes ela gravava vídeos recitando suas poesias em suas redes sociais. Poesias essas  que sempre estiveram presentes, desde o ensino médio Rayane já escrevia, foi nesse período que seu senso crítico se desenvolveu e isso foi parar em suas escritas.


”A poesia marginal atravessa essa criticidade, ela chega na minha vida para mostrar que eu tenho força de fala, para mostrar que eu posso levar ela pros acessos que as pessoas pensam que não vão conseguir acessar. Então, ela também chega com essa potencialidade de que eu tô aqui para falar e ser ouvida.” Relata. 


Depois da primeira experiência se apresentando num slam, a educadora passou a se sentir segura para  expressar seus sentimentos nesse espaço, deixando claro que a periferia é potência e o povo periférico deve falar e ser ouvido. A poesia marginal que Rayane constroi permeia desde a expansão de seu conhecimento até a representatividade da periferia.


“Eu trago a poesia marginal como uma proposta de expandir meu conhecimento, e ao mesmo tempo busco abordar coisas que as pessoas não falam, mas que existem, e junto a isso atravessar meu ser político, minha crítica social, o que vivo aos arredores, e as dores das pessoas pretas periféricas que não são vistas.” Explica. 


A arte-educação como nova forma de ensino 


O envolvimento da slamer  com a arte e a educação fez com que  uma ponte fosse construída entre esses dois universos e uma nova forma de ensino fosse apresentada a seus alunos. Tudo que foi proporcionado pela arte é importante para o  desenvolvimento dela como educadora, e agora leva esses ensinamentos para sala de aula  na tentativa de possibilitar novas formas de aprendizado e levar acolhimento para eles. 


“Quando a gente traz  a arte e a cultura, a gente consegue visualizar no aluno um aconchego, um olhar diferenciado para aquele professor que consegue ir além do método, ele também pratica de outras formas. Então eu prefiro ser mais dinâmica, mais interativa, não busco meios antigos e padronizados do que as pessoas já entendem como educação.” Declara Rayane.


Rayane busca transformar o aprendizado da língua portuguesa e fortalecer o desenvolvimento cultural, emocional e social de seus alunos através da arte. (Foto: arquivo pessoal)
Rayane busca transformar o aprendizado da língua portuguesa e fortalecer o desenvolvimento cultural, emocional e social de seus alunos através da arte. (Foto: arquivo pessoal)

A arte-educadora nasceu durante a graduação, pois além das matérias ligadas a seu curso, a jovem buscou participar de outras atividades de extensão na universidade. Fez teatro, dança, diversas atividades culturais que pudessem envolver a arte com a educação, além disso começou a trazer sua poesia marginal para essa bagagem de aprendizado que construiu na prática dessas atividades. 


Para Rayane, cada espaço requer um tipo de abordagem dessa alternativa de ensino, por isso a professora faz análises e define como a arte será incluída de acordo com o que cada ambiente lhe possibilita. “Eu vou para um espaço periférico onde eu vejo que os meus alunos não têm muito acesso. Então, eu vou misturar as artes de acordo com o nível [de instrução] deles. A gente tá sempre em processos de estudo e de que maneira vai inserir essa arte que faz diferença, que faz muita diferença.” Declara.


Aos 26 anos, Rayane se desafia sendo alfabetizadora de idosos através do programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA). (Foto: arquivo pessoal)
Aos 26 anos, Rayane se desafia sendo alfabetizadora de idosos através do programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA). (Foto: arquivo pessoal)

Por: Viviane Silva


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Projeto desenvolvido pela aluna Tatiane Macena como trabalho de conclusão do curso de jornalismo da Universidade Federal de Sergipe, sob orientação da professora Dra. Liliane Nascimento Feitoza.

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