Em Aracaju, Instituto Rahamim, transforma histórias há mais de duas décadas
- Janisse Bispo
- 13 de ago.
- 5 min de leitura

Localizado na zona sul de Aracaju, no bairro Santa Maria e fundado em 22 de novembro de 2000 pelo empreendedor social e produtor cultural, Cristiano Lima, o Rahamim carrega no nome o significado de compaixão. Desde os primeiros passos, com poucos recursos e muita fé, a proposta do projeto sempre foi transformar vidas por meio da cultura, da educação e da dignidade.
O instituto atende pessoas da primeira infância à terceira idade, e tem vários projetos para essas faixas etárias: ballet clássico baby class (para as crianças menores), danças urbana e contemporânea, desenho, canto, capoeira, jiu-jitsu, cursos profissionalizantes e de formação cidadã, e o alegria sem fronteira para as pessoas a partir dos 60 anos. No Rahamim, também acontecem oficinas de teatro em alguns períodos do ano, atualmente não há turmas abertas, porém voltarão em breve.
O projeto tem muitos impactos positivos nas vidas dos alunos. Segundo o fundador, Cristiano Lima, são inúmeros os depoimentos que demonstram como a iniciativa transformou trajetórias, inclusive de famílias que se formaram a partir da instituição. Com cerca de 400 estudantes atualmente, a proposta é ampliar as ações e alcançar ainda mais pessoas.
A instituição se destaca como uma das poucas, ou talvez a única, de caráter filantrópico em Sergipe a realizar um espetáculo de grande porte no Teatro Tobias Barreto, um espaço que, para muitos alunos e suas famílias, seria inacessível. Anualmente, é apresentado um espetáculo com padrão profissional, desde os figurinos à produção, em um nível comparável ao das grandes escolas de balé da capital. A cada nova turma, crianças, jovens e adultos da comunidade redescobrem o valor da autoestima, do cuidado coletivo e do sonho, a partir disso passam a acreditar que tudo é possível quando se há investimento.
Através de diferentes atividades artísticas e educativas o instituto promove desenvolvimento social dentro da periferia. (Fotos: arquivo do instituto Rahamim)
Importância do terceiro setor para a sociedade
Numa sociedade em que a desigualdade social se faz presente a cada esquina e o poder público se resume a ausência, a presença de projetos sociais são de extrema importância. Um projeto social não tem o poder de acabar com todos os problemas existentes de um determinado território, mas utiliza de mecanismos que possibilitam que eles sejam amenizados e a dignidade chegue a população ali presente.
Projetos sociais em comunidades vulneráveis desempenham um papel fundamental na quebra do ciclo de desigualdades que historicamente afeta as periferias. Em territórios onde o acesso à educação de qualidade, à cultura, ao lazer e a oportunidades de trabalho é limitado, essas iniciativas funcionam como pontes para o desenvolvimento humano e coletivo. Ao oferecerem atividades formativas, culturais e de fortalecimento comunitário, elas ampliam horizontes, despertam talentos e reforçam a autoestima, criando um ambiente onde a população passa a enxergar novas possibilidades de futuro.
Além do impacto direto na vida dos participantes, projetos sociais criam redes de apoio reduzindo fatores de risco associados à vulnerabilidade, como o envolvimento com a criminalidade. Eles também estimulam a participação cidadã e a construção de identidades positivas, mostrando que a periferia é espaço de potência e não apenas de carência. Essas iniciativas contribuem para mudanças concretas nos indicadores sociais, como a redução da violência e o aumento do acesso à educação e ao trabalho.
O terceiro setor também é responsável por evidenciar as potências existentes na comunidade onde determinado projeto atua. Em muitos casos, os bairros periféricos são estigmatizados e viram manchetes por conta de violências que acometem a sua população e pelas vulnerabilidades que ali existem, no entanto seus territórios devem ser vistos para além da estigmatização.
É necessário olhar a periferia por outra ótica, na qual as potencialidades de seus moradores sejam evidenciadas e eles tenham a possibilidade de sonhar e realizar. É assim que o Rahamim faz seu trabalho há mais de duas décadas, o projeto antes de tudo olha o potencial da população periférica, e por meio da arte e educação a impulsiona sonhar e faz com que talentos sejam descobertos chegando a lugares que muitos, por conta de sua realidade, achavam que só era possível em sonho. “O Rahamim mostra que aqui tem talento, tem cultura, não é só malandragem não. Só falta ainda mais oportunidade”, resume Tereza dos Santos que participa do projeto.
As atividades realizadas pelo instituto são gratuitas e atende prioritariamente as comunidades do Santa Maria e do bairro 17 de março, porém futuramente existe um desejo de ampliar as atividades para as demais localidades da região e até outro país. Participantes do projeto da terceira idade, como Angelita Maria, vê ali o instituto como um espaço de acolhimento e construção. “o Rahamim também é casa, aqui eu aprendo, espaireço minha mente e me sinto acolhida'', conta.
Sonhos podem se tornar realidade
São muitos os rostos que passaram pela casa e hoje trilham caminhos antes impensáveis. Muitos tiveram suas vidas transformadas, alguns hoje trabalham em áreas distintas do que foi aprendido na instituição, mas levam consigo os aprendizados obtidos. Em contrapartida existem aqueles que decidiram seguir um caminho artístico e por meio do que aprendeu no Rahamim conseguiu alçar grandes oportunidades, é o caso do bailarino Fernando Mendonça, cria do Rahamim que hoje faz carreira no Rio de Janeiro.
“Conheci o projeto Rahamim em 2016, onde eu dancei com a companhia, o espetáculo: amores, foi um espetáculo lindo, muito marcante. E agora, quase 10 anos depois, morando aqui no Rio de Janeiro, estou de novo junto com o projeto participando de um espetáculo. O teatro Tobias Barreto foi o primeiro palco que eu subi na minha trajetória com a dança. Eu sou cria de um projeto social, e sempre vou bater na tecla da importância dos projetos sociais nessas áreas mais carentes. Então foi graças ao projeto que eu tenho uma carreira, e a instituição direciona crianças e jovens que têm menos recursos a conquistar sonhos”, explica Fernando.

A conquista do bailarino é celebrada por todos que fazem parte do instituto, em especial pelo fundador e grande incentivador, Cristiano Lima. “Nós começamos sem nada, só com coragem e propósito. Hoje, ver jovens que passaram pela nossa instituição indo á outros países fazer intercâmbio cultural ou como Fernando Mendonça, que saiu daqui e se tornou bailarino da Companhia Dalal Achcar, no Rio, mostra que tudo valeu a pena”, relata.
Fernando é um dentre tantos assistidos que viram sua vida mudar através do projeto social. Seu exemplo se tornou referência no que se diz respeito ao potencial que existe na periferia e que com incentivo e investimento pode ser amplificado, o Rahamim age dessa forma, incentivando crianças, adolescentes e adultos a seguirem o caminho da arte e educação para que seus talentos sejam vistos.
Diante de tantas conquistas, o Instituto Rahamim continua a sonhar alto, quer crescer, se tornar referência nacional e ampliar ainda mais o impacto que já vem realizando. Trazer mais oficinas, aumentar o número de crianças assistidas e dessa forma continuar sendo instrumento de transformação e realização de sonhos. “O que a gente quer é ver as crianças daqui sonhando grande, com orgulho de onde vieram e acreditando que podem chegar onde quiserem”, diz Cristiano.

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Por Janisse Bispo e Viviane Silva
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