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Com participação dos povos originários, vem aí a primeira série indígena de Sergipe

Foto: Francielle Nonato
Foto: Francielle Nonato

Mais do que uma produção audiovisual, Originários é a primeira série indígena de Sergipe. Com a direção da multiartista Héloa e da produtora executiva Danne Hinch, a série conta com seis episódios construídos a partir de narrativas sob a ótica dos povos originários que resistem no território sergipano. Cada episódio aborda aspectos específicos, mas de forma fluida, respeitando a complexidade e a amplitude dos saberes indígenas.


O nome do estado de Sergipe deriva de “Si’ri-gi-pe”, termo de origem tupi associado ao rio do cacique Serigy, figura histórica e lendária que liderou resistências indígenas contra a invasão portuguesa. Contudo, com a colonização, a história dos verdadeiros donos desta terra foi invisibilizada ao longo do tempo.


Por isso, por meio da linguagem audiovisual, a série busca recontar essa história silenciada, com as vozes de quem sempre esteve aqui: os povos originários. Com uma equipe cuidadosamente montada, Héloa e Danne percorrem os territórios das etnias Xocó, Kariri-Xocó e Fullkaxó, ouvindo lideranças, escutando histórias e registrando memórias.


Não é a primeira vez que elas trabalham juntas abordando a temática. Em 2020, durante a pandemia, de forma remota, elas realizaram um programa com o mesmo nome na TV Aperipê. Enquanto o setor audiovisual de todo o país buscava alternativas para continuar produzindo, Danne e Héloa, mesmo em meio ao caos da pandemia e às incertezas do setor, continuaram criando. Agora, de forma presencial elas retomaram a temática, porém em formato de série.


O nome da série surgiu de forma espontânea e cheia de significado e ancestralidade. A escolha potente carrega a força dos povos indígenas e dialoga diretamente com a história de Sergipe. O entendimento de que havia ali uma potência veio com a percepção de que, além dos nomes indígenas espalhados pelo Brasil, Sergipe também guarda uma forte raiz originária, viva, pulsante e ainda pouco reconhecida.


A série Originários foi um caminho para mostrar as histórias contadas por aqueles que realmente vivenciam esses territórios. (Foto: Francielle Nonato)
A série Originários foi um caminho para mostrar as histórias contadas por aqueles que realmente vivenciam esses territórios. (Foto: Francielle Nonato)

A construção da série Originários envolve o desafio e a potência de representar, com sensibilidade e precisão, a diversidade dos povos indígenas de Sergipe. Reunir três narrativas sobre três povos com modos de vida distintos exigiu um trabalho cuidadoso de toda a equipe, que ultrapassou o roteiro e se desdobrou em todas as camadas da linguagem audiovisual, da fotografia à trilha sonora, do figurino à direção artística. 


Cada elemento foi pensado para dialogar com os territórios retratados, respeitando e valorizando suas especificidades. Os figurinos, as cores, os enquadramentos e os detalhes narrativos foram concebidos em sintonia com as paisagens, os corpos e as memórias que a série busca honrar e visibilizar. 


A série Originários é uma produção da Aláfia Cultural com recursos da Lei Paulo Gustavo e está em fase de produção e será lançada ainda em 2025. Confira a entrevista realizada com suas criadoras.

Héloa (2ª da esquerda para a direita) é artista afroindígena que une arte e ancestralidade. Danne (3ª da esquerda para a direita) é produtora executiva de cinema. Foto: Francielle Nonato
Héloa (2ª da esquerda para a direita) é artista afroindígena que une arte e ancestralidade. Danne (3ª da esquerda para a direita) é produtora executiva de cinema. Foto: Francielle Nonato

Periféricos: Como surgiu a ideia? 


Héloa: Eu fui me entendendo enquanto uma mulher Afro-indígena, no sentido de que afroindígena são dois pertencimentos ancestrais ao qual eu levo muito fortemente meu trabalho e minha vida. E essas vozes sempre ecoavam muito. No sentido de aprendizado mesmo, de potencializar um outro olhar para o Brasil, uma outra forma de repensar a nossa história. Então, eu tinha dentro das diversas apresentações que eu já vinha fazendo. Durante a pandemia, em meio à violência contra os povos negros e indígenas e ao silenciamento dessas narrativas, senti ainda mais forte a urgência de criar um espaço para essas histórias. Danne já acompanhava meu trabalho, já fazia muitas coberturas também de alguns de alguns shows Sempre que eu fazia algo voltado para música também ali em Aracaju, junto com a população indígena, ela estava por lá. Foi então que decidi procurá-la para transformar esse desejo em projeto. 


Danne: A construção inicial do Originários foi muito importante para revelar a potência do projeto. Eu já tinha uma trajetória com o audiovisual e com temáticas indígenas, inclusive com o documentário Conexão Entre Mundos, que participou de festivais e envolvia o povo Kariri de Xocó. Com o programa Originários, vivenciei não só uma experiência emocional forte, mas também um momento marcante na minha carreira, especialmente em meio à crise do audiovisual causada pela pandemia. A potência [do programa] foi tanta que decidimos seguir com o projeto, agora como uma série documental, escrita e desenvolvida para alcançar novos formatos e editais. Conseguimos aprovação pela Lei Paulo Gustavo e, quatro anos depois, retomamos com força total. O cacique me disse: "Vocês são guerreiras mesmo". Agora estamos em gravação, vivendo um momento mágico e transformador para toda a equipe e para os povos envolvidos.


Periféricos: qual seria a diferença do programa Originários em 2020 e da série em 2025? 


Héloa: Dentro de um contexto pandêmico tudo é muito diferente. Cada um vivia seus processos individualmente. Eu, particularmente, estava vivendo um processo familiar muito duro. Era desligar a câmera e chorar. Mas, ao mesmo tempo, me sentia acolhida por aquelas histórias. Porque, por mais difícil que estivesse sendo, dava pra sentir essa força comunitária, esse propósito maior que não era sobre mim, era sobre algo muito maior. E isso fortalece a caminhada individual também. A gente entende nosso lugar a partir do que escuta. Por isso os Originários não podia acabar ali, como um programa só. Eu e Dani conversamos muito sobre continuar, sobre seguir com essa ideia de Brasil. Mas a gente sabia: era hora de ir pros territórios, de eternizar essas imagens, mostrar o que são esses lugares, como eles são parte da história do Brasil. A gente sonhava grande, queria rodar o país todo. Mas quando veio o projeto Paulo Gustavo, a gente entendeu: vamos começar pela gente.. E foi aí que olhamos para nossa história, pra força do cacique Serigy, tão discriminado, tão mal interpretado. Pensamos: vamos começar por nós.


Danne: A proposta é a mesma, tanto da série, quanto do programa. O que mudou foi a linguagem. A gente estava com uma linguagem primeiro televisiva, de entrevista, de programa. Depois a gente vai para uma série com uma pegada documental, um documentário  naturalista. Que é quando a gente tem poucas intervenções, quando de fato vai vivenciando tudo o que está acontecendo, onde a Héloa já não está mais ali fazendo perguntas, claro que tem as intervenções dela, mas é muito mais uma condução, um entendimento, fazer parte daquilo tudo, mas eu acho que a proposta ela continua sendo a mesma,só as linguagens que se alteraram.


Por que é importante que a narrativa seja contada na perspectiva de povos originários? 


Héloa: Sou formada em licenciatura em artes visuais e me incomoda que, na academia, não se estude a arte originária como base para entender a arte do Brasil e a arte africana. Senti que minha vivência não era contemplada, mesmo depois de trabalhar em escolas públicas e em projetos do Governo Federal. Na sala de aula, percebi que o conhecimento acadêmico pouco se conectava com a realidade dos alunos. Isso me levou a questionar o conteúdo e buscar formas de expressão artística através da música e da imagem, eternizando histórias que não eram abordadas na academia. A oralidade se tornou minha principal ferramenta de formação. Como mulher de terreiro, valorizo esse conhecimento e entendo que ele é fundamental, apesar do racismo questionar sua importância. Ao lutar contra isso, percebi que meu corpo e minha voz são instrumentos essenciais para minha expressão. Decidimos abandonar a ideia de entrevistar historiadores acadêmicos e focar nos guardiões das histórias locais. Cada território tem seus próprios historiadores, que detêm memórias valiosas. Essa abordagem nos permitiu reconhecer que o conhecimento vai além do acadêmico, valorizando as narrativas dos povos originários e a importância de ocupar os espaços na academia.


Danne: É o cinema, acredito que ele tem essa capacidade de ativar os nossos cinco sentidos, seis sentidos. A partir das percepções, das sensações e tudo mais. E quando eu assistia alguns materiais e sempre viam acadêmicos contando essa história, eu não me sentia conectada com aquilo. Não havia uma conexão com aquilo. E não teria como a gente levar uma conexão com aquele povo, com aquele, com aquela história a partir dessas falas. Além do mais, uma coisa que me dá muito medo é que a gente pode ver que muitas histórias são deturpadas, são contadas de outras formas. Eu acho um tanto perigoso, principalmente quando a gente tem eles aqui, vivos para contar a sua própria história. Então, partindo desse princípio, vamos trabalhar apenas com eles, contando, fazendo, trazendo toda essa narrativa. A gente não precisa de ninguém. E quando fomos visitando, fomos tendo certeza disso, do quanto isso precisava ser contado por eles.


Periféricos: Como o audiovisual ajuda a resgatar a memória ancestral, e como a Lei Paulo Gustavo ajuda nisso? 


Héloa: Sou uma realizadora que chegou ao audiovisual a partir da arte, que sempre esteve presente na minha vida de forma terapêutica. Vim da dança, passei pelo teatro, pela música, e entendi que construir narrativas visuais era uma forma de colocar para fora minhas ideias, meus sentimentos e minhas vivências. Meus primeiros trabalhos no audiovisual foram os videoclipes das minhas próprias músicas, em que eu não só atuava como pensava o roteiro, o figurino, a linguagem. Como minhas músicas falavam de mim, mas também de um coletivo, eu sentia a necessidade de estar por trás das imagens, construindo com outras mulheres, com diretoras parceiras. Muitos dos meus projetos nasceram de sonhos. O documentário "Eu, Oxum" surgiu justamente de um sonho. Eu sonhava muito com aquilo e compartilhei com a minha mãe, que também não vinha do audiovisual, e juntas nos lançamos no campo para criar. Fizemos também o filme Afluentes, que é um filme show. O que eu vivo, muitas vezes, não está representado nos espaços tradicionais, que são excludentes e racistas. Já tive clipes recusados por TVs com justificativas que sabemos bem de onde vêm. Isso só reforçou a urgência de usar a imagem como ferramenta de afirmação e retomada. Eu vejo o audiovisual como foi para minha vida, a necessidade de contar aquilo que me incomodava tanto, 


Danne: A Lei Paulo Gustavo foi a base, o alicerce essencial para que esse projeto acontecesse. O desejo de produzir já era muito grande da nossa parte mas, se não tivéssemos conseguido o recurso, talvez ainda assim a gente se lançasse na coragem, tentando juntar uma equipe na raça, como sempre foi feito no audiovisual sergipano. A gente sabe que muito do que se produziu por aqui foi assim, na força de vontade. Mas é importante dizer: por mais vontade que se tenha, sem verba não dá para alcançar o valor real de um projeto. O dinheiro leva tudo a uma outra proporção. O audiovisual é uma das artes mais caras de se executar. Muita gente critica, sem compreender que ele envolve diversas outras linguagens. É uma arte complexa, coletiva, e por isso exige investimento. O recurso da Lei Paulo Gustavo nos permitiu sonhar e realizar de forma mais estruturada, otimizar melhor os processos e entregar um projeto com mais qualidade. Ainda não foi o ideal, a gente precisaria de mais, mas foi um grande avanço. Sou muito grata à existência da Lei Paulo Gustavo, e também ao próprio Paulo Gustavo, que deixou esse legado, essa possibilidade de uma lei emergencial que veio num momento muito difícil. 


“Foi a primeira vez que muitos deles estavam tendo a oportunidade de se ver e se reconhecer em uma série. E isso gerou um envolvimento muito bonito. Eles não queriam apenas aparecer, queriam construir junto. E a gente estava ali para isso: para escutar, para respeitar, para caminhar junto”, disse Héloa (Foto: Francielle Nonato)
“Foi a primeira vez que muitos deles estavam tendo a oportunidade de se ver e se reconhecer em uma série. E isso gerou um envolvimento muito bonito. Eles não queriam apenas aparecer, queriam construir junto. E a gente estava ali para isso: para escutar, para respeitar, para caminhar junto”, disse Héloa (Foto: Francielle Nonato)

Periféricos: Como se dá a participação dos povos originários na construção da série?


Héloa: Não tem como falar de uma série em que a gente escolhe o caminho da oralidade, do território, de estar 100% presente nesses espaços, sem reconhecer que essas pessoas estão ali e que elas são mais do que participantes, são pensantes do processo. Durante todo o tempo, eu conversei muito com a Danne, e a gente foi entendendo que tínhamos produtores locais, pessoas que foram fundamentais. Ela vai conseguir falar melhor sobre isso, sobre o papel dela como produtora e esse bate-bola tão importante com quem estava no território, fornecendo as informações necessárias para que tudo acontecesse, e isso é muito importante porque só quem pode fornecer as melhores informações de quem vive no território. A gente pensou numa forma diferente de produzir essa série, onde as pessoas locais foram 100% incluídas para pensar junto como ela deveria acontecer, respeitando a dinâmica do lugar, os rituais, as imagens que eles gostariam que fossem mostradas. Em vários momentos, alguém chegava e dizia: “Filma isso aqui, porque é importante pra gente”. E a gente filmava, porque havia ali uma direção vinda deles, é um desejo legítimo de contar a própria história com a própria voz.


Danne: Desde o início, a construção do roteiro foi feita de forma coletiva. A gente percorreu os territórios, fazendo visitas mensais a cada um deles e foi buscando construir junto. Já no primeiro encontro com cada território, a gente foi muito transparente, dizendo: “Olha, estamos aqui para fazer essa construção juntos. A gente precisa de vocês para isso”. Cada conversa que a gente tinha lá, quando voltava, era levada para as reuniões com o roteirista, tudo aquilo que era compartilhado conosco nos territórios, além do nosso próprio conhecimento, era repassado e transformado em roteiro. No começo, com os territórios que a gente ainda não conhecia tão bem, como foi o caso do povo Xocó, havia certa desconfiança. Eles têm esse cuidado, esse resguardo. Mas aos poucos, com o caminhar do processo, eles foram percebendo que aquela construção era mesmo coletiva. Que o nosso desejo era que eles contassem suas próprias histórias, do seu jeito, com a sua voz. As pessoas se sentiam parte, se sentiam respeitadas, ouvidas. E isso é algo muito bonito de ver: o brilho no olhar de quem se reconhece como sujeito da narrativa, e não como objeto de registro. Além disso, houve sempre o cuidado de garantir que eles pudessem participar de todas as formas, inclusive usufruindo do que o projeto podia oferecer. A gente se perguntava o tempo todo: como podemos fazer com que essa participação seja justa, respeitosa, positiva para eles também? E isso se refletia em várias decisões, como a forma de acolhimento, alimentação, hospedagem e, principalmente, na escuta. Houve uma verdadeira proatividade coletiva. Todos os envolvidos contribuíram em todas as etapas, e isso fez com que a série não fosse apenas sobre os territórios, mas com os territórios. 


Periféricos: São quantos episódios e do que eles tratam? 

 

Héloa: Inicialmente pensamos em doze, depois em oito, até chegar aos seis exigidos pelo edital. A construção dos episódios partiu muito da minha vivência no território ao longo de 20 anos, especialmente pela relação com o Rio São Francisco, o velho Chico, ou Opará, como o chamamos em sua dimensão afro-indígena. A partir da minha retomada, fui entendendo que ela não diz respeito apenas à terra, mas também à história, à língua, ao canto, ao comportamento. Isso se conecta com a espiritualidade e com a arte indígena, que não é decorativa, mas medicinal, ligada ao bioma: o nosso bioma, a Caatinga, que carrega um DNA próprio. Os episódios foram se desenhando a partir dessas vivências e se conectam como uma grande navegação. São temas como o bioma, o Rio, a remanescência indígena, as lutas por território. Abrimos questionando o que é ser sergipano, ouvindo os caciques falarem sobre o não-reconhecimento indígena, sobre nomes de cidades e pessoas que ocultam suas origens. Minha trajetória em retomada me colocou como um ponto de conexão para que outras pessoas também possam retomar suas histórias. Cada episódio termina com um convite, uma provocação, pensando que essas narrativas possam seguir ecoando e mobilizando novas escutas.


Danne: Eu penso muito no seguinte: o rio mostra o fluxo da vida que precisa seguir, você não tem como parar aquele fluxo. Em originários, ele traz um fluxo que estava represado e que ele vai transbordar a partir dessas falas. Ele já estava ali, aquela força, já além do seu limite, sendo preso, estagnado e a gente vem e abre essa represa para que essa água flua e traga toda essa informação para o mundo. A gente desenvolve os temas de cada um dos episódios, mas assim, é documentário. Começa de uma forma e termina de outra e uma coisa importante é que a gente foi entendendo que cada um daqueles temas que vão seguindo em cada um dos episódios, ele traz em vários outros braços de coisas que a gente não imaginava. “Opa esse tema aqui a gente pode coligar um pouco mais com aquele aquele episódio, esse com esse, esse com esse, as surpresas foram muitas inimagináveis, não é?”. Então, assim, não sei, não sabemos ainda como é que vai ficar. Porque a gente ainda tá no processo de organização. São mais de 70 horas de imagens.


Periféricos: Até que ponto essa série se torna política? Há militância da parte de vocês e a até que ponto, de que maneiras, essa, essa militância, se existe, aparece? 


Héloa: De minha parte, 100%. A militância aparece e se dá a partir de como eu me movimento no mundo. A série, para mim, é 100% política no sentido dessa luta, principalmente. Quando eu e Danne estávamos ali escrevendo o projeto, ela veio com uma parte do projeto, a gente se reuniu até dentro dos argumentos, da justificativa do projeto. Eu falei muito dos novos acordos da ONU, sobre a questão ambiental, importante da gente falar, sobre a questão da luta contra o racismo, sobre a questão também da luta das mulheres. Então, existem muitos pontos que a gente defendeu desde o começo na série, que vão estar em cada episódio sobre as diversas lutas que que têm ali dentro. São recortes sociais. Eu e Danne somos mulheres diferentes nos nossos lugares, mas cada uma tem os seus recortes e seus protagonismos no que nós ocupamos. Eu sou uma mulher afro-indígena completamente ligada às questões políticas dentro de um trabalho ativista. Eu sou uma mulher ativista, ativista pela arte, pela que eu construo enquanto imagem, enquanto sonoridade, falando do lugar de uma mulher de terreiro, de uma lugar de uma mulher de de retomada aldeã.


Danne: Se eu disser que eu sou uma ativista indígena, eu vou estar trazendo uma história que não é minha, né?  É um lugar muito mais de elo, que já está nessa caminhada há muito tempo. Eu acho que eu sou uma ativista do audiovisual, de contar essas histórias, de poder desvendar pro mundo essas histórias, né? Claro que tem o ativismo de mulher, de mulher dentro do audiovisual, de lutar pelo seu lugar, de buscar cada vez mais o seu lugar


A presença de produtores locais foi fundamental tanto para a construção das narrativas quanto na logística das filmagens. (Foto: Francielle Nonato)
A presença de produtores locais foi fundamental tanto para a construção das narrativas quanto na logística das filmagens. (Foto: Francielle Nonato)

Héloa é uma mulher negra afroindígena e artista multidisciplinar que há anos pesquisa e valoriza as culturas originárias por meio da música, do cinema e da militância cultural. Desde a infância, sentia pertencimento às temáticas indígenas e, com o tempo, reconectou-se espiritualmente com suas raízes, especialmente com o povo Kariri Xocó, cuja história ressoa com a de sua família. Essa retomada influencia diretamente sua obra, marcada pela escuta ancestral e pela fusão entre arte, memória e resistência, como evidencia no projeto Originários.


Danne é produtora, gestora cultural e pesquisadora, com atuação voltada para o audiovisual e uma trajetória marcada pela escuta, pela conexão com os territórios e pela valorização de múltiplas narrativas. Sua formação como documentarista abrange temas diversos, com ênfase em questões sociais, mas também se expande para a ficção, especialmente em projetos com estética e identidade nordestina. Sua ligação espiritual com os povos originários começou ainda na gestação, vivida por sua mãe na floresta amazônica, e se fortaleceu ao longo da vida por meio de memórias familiares e experiências em aldeias. A partir de 2017, essa relação se aprofundou com rituais e trocas com o povo Xocó, resultando em projetos como Águas de Aruanda e Conexão Entre Mundos, que entrelaçam espiritualidade, escuta e linguagem audiovisual.


Por: Tatiane Macena


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