Por uma política menstrual inclusiva
- Lenice Ramos
- 2 de mai.
- 3 min de leitura
Apesar de iniciativas recentes, desigualdade menstrual persiste em Sergipe

Apesar de avanços pontuais no Brasil, a pobreza menstrual ainda é uma realidade crua e urgente em Sergipe. Meninas e mulheres em situação de vulnerabilidade seguem enfrentando dificuldades ao lidar com algo natural pelo próprio ciclo menstrual. Em escolas públicas, não é raro que alunas faltem às aulas por não terem absorventes.
Nas penitenciárias femininas, a situação é ainda mais alarmante: mulheres são obrigadas a improvisar com miolos de pão, jornal ou panos reutilizados; práticas insalubres que colocam em risco sua saúde e dignidade. A ausência de infraestrutura adequada, somada à falta de campanhas educativas e acesso a produtos de higiene, expõe uma negligência histórica com os corpos de quem menstruam. E ainda há muitos espaços em que a pauta sequer é discutida
Sergipe, assim como tantos outros estados brasileiros, falha em reconhecer a menstruação como uma questão de saúde pública e de direitos humanos. Os investimentos em políticas de combate à pobreza menstrual são escassos e, quando existem, raramente chegam a quem realmente precisa. A comunicação é um entrave, a maioria das pessoas que menstruam sequer sabem da existência de programas que poderiam lhes beneficiar.
Foi somente em 2024 que o estado de Sergipe começou a avançar de forma mais concreta com a implementação do Projeto CUIDAR-SE. A iniciativa, embora importante, ainda não reconhece o papel essencial da juventude na construção das políticas públicas de combate à pobreza menstrual. Em 2020, por exemplo, eu, enquanto estudante sergipana consegui, uma mobilização, para arrecadar 192 mil absorventes, que foram doados para escolas públicas.
No entanto, o estado não prestou qualquer apoio para que essa doação chegasse às escolas, o que gerou uma sobrecarga para as próprias escolas e estudantes, que precisaram arcar com os custos de transporte. Uma falha grave no reconhecimento e no apoio à juventude, que é capaz de promover grandes mudanças, mas, diversas vezes, enfrenta estruturas de poder que negligenciam suas iniciativas.
Além disso, o Projeto CUIDAR-SE precisa avançar muito mais para garantir que o acesso aos produtos de higiene menstrual seja verdadeiramente universal. Não basta apenas distribuir absorventes nas escolas; é necessário que todas as mulheres e pessoas que menstruam, inclusive aquelas em situação de rua, privadas de liberdade e fora do sistema educacional, sejam alcançadas.
Ademais, o Governo do Estado também poderia divulgar amplamente que o Governo Federal distribui absorventes gratuitamente em farmácias conveniadas através do Programa Dignidade Menstrual, aumentando, assim, o acesso para as pessoas que mais necessitam.
Outro ponto é a falta de capacitação dos profissionais que atuam nas farmácias. Muitas mulheres e adolescentes que procuram informações sobre como acessar esses produtos enfrentam despreparo, falta de empatia e até constrangimento. Sem a capacitação adequada, a política pública perde sua efetividade, tornando-se mais um obstáculo ao invés de uma solução.
A pobreza menstrual não é apenas uma questão de falta de absorventes: ela é reflexo da desigualdade social, do machismo estrutural e da omissão do Estado. A falta de reconhecimento do papel da juventude e a ausência de um sistema de apoio adequado demonstram o quanto ainda há a ser feito. O projeto CUIDAR-SE representa um passo na direção certa, mas é fundamental que o poder público se comprometa a expandir, divulgar e melhorar a efetividade das políticas de combate à pobreza menstrual, para que todas as pessoas que menstruam possam ter acesso ao que é seu por direito: dignidade.
Por Lenice Ramos

Lenice Ramos Oliveira, 21 anos, sergipana e Aracajuana, Mulher parda, moradora do bairro Industrial, fruto de escola pública, estudante de jornalismo da Universidade Federal Sergipe, palestrantes pela educação e ativista social, a candidata à vereadora mais jovem de Aracaju no ano de 2024, autora do projeto absorvente é direito em Sergipe, já atuei como assessora do senador Alessandro Vieira e atualmente escritora do periféricos
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