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“Não escondo de ninguém que moro no Santa Maria, sempre faço muita questão de dizer de onde sou”.

Atualizado: 10 de abr.

Em entrevista ao Periféricos, Imperatriz do Forró relembra o começo de carreira e fala sobre o que deseja alcançar



Foto: Tatiane Macena


Aline Lima, ou simplesmente ‘A Imperatriz' é uma artista sergipana, moradora do bairro Santa Maria, que canta diversos ritmos, principalmente o forró. Ela começou a cantar com o incentivo de seu pai, a quem ela tem como sua maior inspiração, “Foi com ele que que eu cresci e aprendi a avançar na música”. Antes de iniciar a carreira solo, A Imperatriz, fez parte das bandas Agua de cheiro, Forró pé quente, Forró Imperial e Cana com Limão.


Aline nasceu em Aracaju, mas morou em  Maruim e no Ponto Novo, antes de mudar-se, juntamente com seu pai, Silinho do forró, sua mãe e os irmãos Jéssica e Aldair, para o bairro Santa Maria. Por aqui, Aline criou laços e raízes. “Basicamente minha vida [sempre foi] aqui. Desde muito menina já morava aqui, acho que dos meus onze anos em diante, talvez um pouco menos, não lembro exatamente, mas desde muito menina mesmo”, diz a Imperatriz.


Com incentivo de seu pai e com muita vergonha Aline fez suas primeiras apresentações.  Ela conta que, no começo da trajetória, ela queria cantar, mas tentava se esconder. “Eu morria de vergonha, cantava de cabeça baixa, porque eu tinha medo de encarar as pessoas”. Para superar, o pai da Imperatriz nunca apresentou a música como obrigação, mas tratava de valorizar e encorajar. 


Aline detalha mais sobre sua trajetória e motivações ao longo da entrevista.


Periféricos - Você sempre fala que no início sentia vergonha de cantar, você lembra quando percebeu que queria seguir a carreira como cantora profissional? 


Aline - Não sei dizer ao certo qual foi o momento em que eu disse que queria isso para  a minha vida. Na verdade, acho que desde o primeiro passo no palco, que eu dei com meu pai, no meu íntimo eu já sabia disso, eu já queria isso. Talvez eu nunca tenha parado para expressar verbalmente isso, mas intimamente eu sempre soube. Sempre me senti realizada com isso. Porém, por outro lado, nunca fui de dizer pra todo mundo que eu conhecia, que cantava. Algumas pessoas conviveram comigo por alguns anos e não sabiam que eu cantava. Trabalhei como vendedora, então algumas pessoas não sabiam. Alguns momentos eram até engraçados, como a surpresa de uma amiga que foi pra um show com a gente e ela não sabia que eu ia cantar com meu pai. E aí, de repente ela me viu lá cantando com meu pai. Inclusive na época que tinha show na feira aqui no Santa Maria. E quando ela me viu depois ela disse “Aline do céu! Eu não acredito, como é possível esses anos todos e eu não sabia disso”. Chega a ser engraçado. Acho que  verbalmente eu nunca parei pra de fato dizer assim “Eu vou virar cantora, é isso que eu quero”. Mais intimamente acho que eu sempre disse isso com o coração.


Aline junto dos integrantes do Forró pé quente.  Foto: arquivo pessoal


A - Vivi muitas coisas que sinto muito orgulho aqui no Santa Maria. As pessoas têm preconceito com o bairro, tiram conclusões e julgam o livro pela capa. E a gente tem um pouco a oportunidade de levar pra os lugares e mostrar que aqui a gente também tem coisa boa. Como em todos os outros lugares, nem tudo é tão bom, nem tudo é tão ruim. A gente tem dois pesos e duas medidas para tudo. Não escondo de ninguém que moro no Santa Maria e se não me perguntar eu falo. Sempre faço muita questão de dizer de onde sou, porque graças aos meus pais, aprendi muito a valorizar as minhas raízes. Tem muita gente que me pergunta se nasci no Santa Maria. Nasci aqui em Aracaju, e praticamente fui criada no bairro Santa Maria, então eu posso  dizer que eu sou filha da terra, pelos anos que nós moramos aqui, então eu digo que essa casa também é minha.



P - Como surgiu a imperatriz do forró e a imperatriz?


A - Meu primo que me sugeriu esse nome. Ele ficava me dando toques para eu lembrar de falar ‘A Imperatriz do Forró’. Eu até comentava que eu esquecia de falar porque eu ainda não tinha tomado para mim, não tinha como o meu ainda. No decorrer do tempo, eu fui meio que acostumado com ‘A Imperatriz do Forró’. No entanto, quase um ano depois nós tiramos o do forró, ficou ‘A Imperatriz', porque a gente já estava no ponto onde não era mais só forró. Já vinha a questão do arrocha, já tinha lambada, tinha algumas outras situações, então quando a gente falava assim, do forró, a impressão que as pessoas tinham era que era só forró. Então, achei bom determinar cada ponto. Quem me conhece sabe que a minha paixão é o forró, mas hoje a gente agregou outras paixões, digamos assim. Eu já tinha tomado pra mim a Imperatriz e as pessoas receberam bem esse termo. Tanto que algumas pessoas falam comigo, me chamam de Imperatriz.


Aline Lima cantando no Pré-caju em 2009 Foto: arquivo pessoal


 P - Você pode citar um sonho?


A - Eu posso dizer que toda pessoa que procura uma profissão, costuma ter paixão por isso que ela faz, é como no seu caso, você faz o jornalismo então com certeza você tem paixão por isso pelo que você faz e tudo que você deseja é que você possa chegar mais tarde e dizer “hoje eu sobrevivo do que eu amo, a minha paixão é o jornalismo e hoje eu vivo literalmente disso”. Comigo não é diferente, eu amo a música e eu quero poder chegar mais pra frente e dizer assim que literalmente vivo de música, porque é difícil. É difícil mas a gente sabe que não é impossível e para Deus, então. Continuo lutando aos pouquinhos um degrau de cada vez e aí quem sabe um dia? 


P - Fora do seu ciclo familiar, você tem alguma banda ou artista que admira?


A - Infelizmente, ela não está mais entre nós, mas é Marília [Mendonça]. Marília foi uma artista, um anjo que Deus colocou, a passagem dela foi muito rápida, porém muito grandiosa. Então, foi exatamente numa fase onde eu aprendi a me apaixonar pelo estilo dela, pela personalidade dela, que acho que foi bem na fase em que eu vinha. Infelizmente, hoje eu não tenho mais essa oportunidade de conhecer ela. Mas pensando em uma outra pessoa, é a Elba Ramalho, meu Deus do céu, essa mulher é fantástica. Dentre tantas outras pessoas que se for citar aqui, a gente ficaria um tempão, mas pensando na minha raiz quem sabe um dia, Aline Lima e Elba Ramalho. 


“Quero poder chegar mais pra frente e dizer assim que literalmente vivo de música”, diz Aline.  Foto: arquivo pessoal


P - Você já sofreu com assédio em algum momento de sua carreira?


A - Graças a Deus, eu nunca passei por nenhuma situação física ou algo do tipo, mas a gente sabe que isso não é só físico, é psicológico também. Então a gente luta pra que as pessoas nos reconheçam, nos valorizem pelo nosso trabalho, por aquilo que a gente representa. Infelizmente, a gente passa por isso por ser mulher. E eles só enxergam a mulher, eu escuto muito “você é linda, você é isso, você é aquilo”. Independente daquilo que você faz, independente da situação, eu acho que a beleza mais importante vem de dentro e o trabalho que você mostra, o trabalho que você faz é mais grandioso do que a sua beleza física. Mas, infelizmente têm muitas pessoas que não compreendem isso. Olham pra você, não enxergam o profissional, só enxergam a mulher. Algumas pessoas não enxergam Aline Lima como cantora, enxerga a mulher.


P - Qual a situação que mais marcou?  


A - Fiz um show e um rapaz amou, aí no final do show ele veio conversar com a gente, ele disse: ‘Meu tio tem um espaço e eu vou indicar vocês porque eu amei e tenho certeza que ele vai gostar’. O tio dele contratou um show, nós fomos muito bem recebidos, fizemos o show, graças a Deus, a casa estava cheia, todo mundo amou, e, ele fez comentários maravilhosos em relação ao show. A gente já saiu de lá com uma outra data fechada. Só que depois eu descobri que ele achava que o tecladista era meu esposo, e ele esteve numa festa, encontrou o Anderson que é meu produtor e perguntou por mim, o tecladista estava com a esposa dele aí ele perguntou por mim. Ele foi no meu Instagram e mandou mensagens dizendo queria sair me conhecer e disse que não podia aceitar e que se estivesse interessado no meu profissional eu estaria aberta, caso contrário o assunto se encerraria ali. Ele insistiu um pouquinho  e como eu não respondi a expectativa dele, o show marcado foi simplesmente cancelado. Porque na visão dele eu não respondi ao que ele esperava. Mas eu não sou obrigada. Uma pergunta que bate recorde nas minhas redes é “Você é solteira”? Eu digo que sou comprometida comigo mesma e com o meu trabalho. Mesmo assim, as pessoas ainda insistem “você tem que ter alguém para ficar bem”. É como se o seu bem-estar, a sua felicidade fosse completamente dependente de outra pessoa, e a gente sabe que não é. As pessoas fazem questão de enxergar a mulher e esquecer o trabalho. Graças a Deus tem uma outra parte que valoriza o profissional, mas isso acontece muito. 


Ao lado de seu pai, Silinho do forró, de quem Aline fala com tanto carinho, ela canta no São João do Santa Maria.  Foto:Arquivo pessoal


P - Qual foi a situação mais inusitada que você viveu enquanto artista?


A - Fui fazer um show e tinha um casal curtinho, os dois dançando e aquele amor todo, aquela coisa toda. Quando terminei o show, o rapaz se aproximou e perguntou: ‘a gente pode tirar uma foto?’ Eu levantei, me aproximei da esposa dele, nós tiramos a foto e depois ele disse que queria fazer uma proposta, eu pensei que era um show. E por incrível que pareça, na hora eu fiquei sem ação porque ele chegou para mim e disse ‘você aceita fazer parte do casal?’ Aí eu disse: ‘ser a inspiração do casal pra vocês se amarem ouvindo a imperatriz?’ Brinquei. Eu fiquei com aquela interrogaçãozinha. Ele respondeu que aquilo era um convite para um trisal. Eu fiquei sem reação. E ele: ‘eita ela ficou em choque, eu também ficaria. É porque a gente gostou muito de você e já estamos te acompanhando há um tempo, inclusive esse convite partiu da minha esposa’. Eu topei o ombro dele e eu agradeci o carinho e o convite mas, disse que tinha que recusar. Os meninos estavam sentados, olharam pra mim e  disseram ‘Aline, a gente ouviu certo?’ Eu disse ouviram, mas deixe para lá. A gente lida com isso tudo.


P - Já quis desistir?


A - Já, justamente por ser tão difícil. Muitas vezes você vem batendo na mesma tecla. Como aquele ditado que parece que você está dando murro em ponta de faca. Eu já tive essa fase assim, mas quando pensava em desistir, ia para o meu cantinho e dizia, ‘Pai, tu sabe todas as coisas’. E, quando eu estava quase desistindo, acontecia algo. Por exemplo, antes de eu entrar na Cana com Limão, parei e disse acho que eu vou desistir, talvez esse esse não seja o momento, talvez seja em outro momento, talvez eu deva dar um tempo, e aí na mesma semana veio o convite. Eu disse: ‘Senhor, eu pensando em desistir, e o senhor vem me dá uma resposta dessa?’ Então, eu vou persisti. A luta não ficou mais fácil, a luta é a mesma. A cada dia você vai descobrindo situações novas, mas eu posso dizer que fiquei mais forte talvez por causa das pessoas que me acompanham. Os meus fãs que graças a Deus são pessoas que me acolhem bem me mostram que eu estou no caminho certo. O carinho que eles têm comigo às vezes me surpreende. Então isso me faz acreditar que eu estou no caminho certo, porque se você não tiver um empresário ali pra chegar e levantar e daí fica meio difícil. Eu só tenho que agradecer a Deus pelas pessoas que fazem parte da minha vida, pela minha família que me apoia, os amigos que sempre chegam junto, os meus fãs, que são uns amores, e que sempre me acompanham em tudo que eu faço. Sempre que eu peço apoio para alguma coisa eles estão ali, chegam junto e muitas vezes me surpreendem. Nas redes, às vezes eu não estou esperando e eles fazem postagem de alguma coisa, uma mensagem ou às vezes no direct.


Querida pelo povo do bairro Santa Maria, Aline foi escolhida como melhor cantora do bairro numa enquete promovida por uma página do Instagram. Foto: Arquivo pessoal


P - O que te faz continuar?


A - Agradeço a Deus assim principalmente por ele não me deixar desistir e também o apoio de fãs, amigos, família. Tudo que a gente conquistou até hoje foi junto das parcerias, que que eu sempre digo que são mais do que parceiras, são amigas que que vêm somando junto com a gente. Ana Cristina mesmo, do salão, ela cuida do meu cabelo e a filha dela, Juliana faz a minha maquiagem. Eu sempre falo de Ana Cristina Beauty e Juliana Makeup, até eu brinco com ela que vou chamar de Juliana Oliveira que é mais fácil, e eu não enrolo a língua. Mas assim, dentre outras, aqui no Santa Maria mesmo, graças a Deus, eu tenho muitos amigos parceiros, Kátia da papelaria, JR Distribuidora de açaí, o Gordinho Burguer, Nide do ateliê que faz o figurino. Fora tantas outras pessoas, que graças a Deus, facilitam muito. Graças a Deus e esses apoios eu acho que eu estou forte.


Aline Lima ao lado de Luanzinho Moraes em um evento organizado por produtores do bairro Santa Maria


P - Qual é a diferença entre a Aline e a Imperatriz?


A - Sou muito amiga, apesar do meu lado meio tímido muitas vezes. Gosto do meu cantinho, mas também desse contato, desse calor humano. Escuto muito isso de que meus olhos chegam a brilhar quando estou no palco. Eu não sei explicar, mas eu sou uma Aline totalmente diferente fora do palco. Eu realmente amo o que eu faço e sinto falta da energia quando não estou cantando. Algumas amigas me dizem que quando estou no palco, pareço outra pessoa, não tenho vergonha nenhuma. Mas, fora do palco das câmeras, eu tenho os meus momentos de brincalhona e tal, mas de um modo geral eu não perdi a minha timidez assim de ter esse meu lado um pouco mais tímido um pouco mais tranquila, muito observadora, mais calada às vezes.



P - Seria Aline Lima uma pessoa reservada?


A - Na minha vida pessoal eu sou um pouco mais reservada, assim muita gente que me conhece sabe né do meu lado que eu sou muito caseira sabe é eu sou muito de estar no meu cantinho filmes e tal. Às vezes tem algumas amigas, alguns amigos que até cobram que sumi, mas eu estou em casa. Minha mãe até brinca “Quer achar Aline? Lá em casa”. Uma ou outra vez tem amigos, amigas que aparecem, ou eu vou vê-los.  Mas de um modo geral ficou bem bem no meu cantinho, como muita gente fala, porque eu gosto do povo. E eu sou uma pessoa muito pé no chão,  eu agradeço a Deus por tudo e sempre peço nas minhas orações, que independente do lugar de onde eu esteja, com quem eu esteja que ele nunca me permita deixar não ser pé no chão, que eu nunca esqueça das minhas raízes porque eu sempre valorizei, até hoje que a minha essência que é essa que as pessoas conhecem. 


Ouça um pouco de Aline Lima no Youtube



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