top of page

Liberdade através da palavra: Slam das Minas redireciona o Hip Hop das ruas e promove arte e expressão no PREFEM

  • Gasú
  • 24 de out. de 2024
  • 3 min de leitura

Atualizado: 12 de dez. de 2024


Foto: Gasú


Escrever se torna um ato de liberdade para muitos que se encontram aprisionados em limbos que os fazem sentir que perderam o rumo de suas vidas. Para essas pessoas, apenas a arte é capaz de retomar a esperança. A terceira edição do Slam das Minas, mediada pelas artistas periféricas Blenda Santos e Manu Caiane no Presídio Feminino em Nossa Senhora do Socorro, alcançou mulheres em privação de liberdade.


Foi na poesia que as internas do PREFEM encontraram uma maneira de romper o silenciamento a elas imposto. E é nessa tentativa de romper o silêncio que a cultura do slam chegou ao Presídio Feminino. No mês de agosto, o coletivo  promoveu um espaço de expressão artística no PREFEM, com a batalha de poesia falada que junta escrita e oralidade com performance corporal.


Muitos de seus poemas expressavam narrativas de amor, saudade, resistência, revolta, dor, arrependimento, fé e, principalmente, uma intensa busca por liberdade. (Foto: Gasu)


Com auxílio da professora Jocilene Lima, que faz parte dos processos de ensino no PREFEM, o coletivo já vinha fazendo um trabalho de produção literária com as alunas e muitos poemas que foram recitados saíram daí. Ao todo, competiram no Slam de poesia quatro internas, alunas PPL. As outras internas ficaram prestigiando o momento, atentas às mensagens profundas dos poemas das colegas, e algumas foram escolhidas como juradas dos poemas apresentados.



A competição é só um pretexto para que nosso povo possa se encontrar, trocar, falar, ouvir, compartilhar e aprender uns com os outros; ou seja, é um processo extremamente coletivo. Entendemos o peso disso — principalmente para nós, mulheres, que vivemos em uma sociedade que nos invisibiliza”, disse a slam-master Blenda Santos (à esquerda). (Foto: Gasú)




Por sua natureza itinerante, o projeto já rodou lugares importantes e estratégicos para o movimento Hip Hop, buscando alcançar áreas da periferia que vão além das ruas e praças da cidade; Como o Centro de Excelência Hamilton Alves Rocha, no Conjunto Eduardo Gomes, onde o Hip Hop é abordado como arte-educação, e o quilombo Maloca, no bairro Getúlio Vargas, um marco histórico de resistência ancestral. Agora, chegou ao PREFEM, um ponto central que merece atenção e visibilidade na sociedade.


Ocupar espaços com Hip Hop é fundamental, pois ele salva vidas. Enquanto se protesta nas ruas contra as violências do sistema, a presença do movimento ainda é escassa em complexos de contenção, que sustentam a "babilônia". Foto: Gasú


As slam-masters Blenda Santos e Manu Caiane conduziram a mediação do evento, enquanto a professora Catarine Campos ficou responsável  pela matemática (somou a pontuação), a DJ Jolly Barreto comandou as pick ups, a artista visual e grafiteira Mariana Feitosa nos designs e eu (Gasú) capturei os momentos. E assim, o Slam das Minas, que contou com o apoio da Nação Hip Hop, ocupou o pátio do PREFEM com música, freestyle, muita arte e poesia. 


Não é fácil implementar projetos que promovam o empoderamento, o diálogo, a escuta, a autoestima e a autonomia de mulheres periféricas em situação de cárcere, especialmente em uma sociedade racista e punitivista. O sistema carcerário muitas vezes não compreende, ou talvez tema, a força libertadora do Hip Hop. No entanto, é exatamente nesses espaços que precisamos nos fazer presentes. A rua é "nóis", mas quem não está na rua também deve ser lembrado.


Como disse Blenda Santos na abertura do evento: "hoje estamos felicíssimas de estarmos ocupando e dividindo esse espaço com vocês, dentro dessa lógica da importância de trazer a arte e a educação pra dentro desse lugar aqui que, infelizmente, é um lugar que convive com muitas ausências, violências, e faltas. A gente entende, como mulheres negras periféricas, e artistas, que circulam em espaços que também têm ausências institucionais, estruturais."


Blenda ainda completou que estar ali naquele encontro "antes de qualquer coisa, dialogando, se olhando olho-no-olho, e trazendo um pouco do que a gente entende como potência nessa vida, é algo muito importante.”



Fotos e texto: Gasú 

Edição das fotosGasú 

Supervisão: Tatiane Macena



Importante:

Nós não recebemos verbas de governos. A nossa sobrevivência depende exclusivamente do apoio daqueles que acreditam no jornalismo independente e hiperlocal. Se você tem condições e gosta do nosso conteúdo, contribua com o valor que puder.



Comments


PERI_FÉRICOS__8_-removebg-preview.png

Nosso jornalismo é feito de dentro para dentro e dentro para fora. Aqui, as pessoas têm não somente nomes e funções, mas também características e sentimentos, individuais e coletivos. Mande a sua sugestão de pauta para perifericosjornalismo@gmail.com

Design_sem_nome__4_-removebg-preview.png

Projeto desenvolvido pela aluna Tatiane Macena como trabalho de conclusão do curso de jornalismo da Universidade Federal de Sergipe, sob orientação da professora Dra. Liliane Nascimento Feitoza.

bottom of page