Foto: Gasú
Escrever se torna um ato de liberdade para muitos que se encontram aprisionados em limbos que os fazem sentir que perderam o rumo de suas vidas. Para essas pessoas, apenas a arte é capaz de retomar a esperança. A terceira edição do Slam das Minas, mediada pelas artistas periféricas Blenda Santos e Manu Caiane no Presídio Feminino em Nossa Senhora do Socorro, alcançou mulheres em privação de liberdade.
Foi na poesia que as internas do PREFEM encontraram uma maneira de romper o silenciamento a elas imposto. E é nessa tentativa de romper o silêncio que a cultura do slam chegou ao Presídio Feminino. No mês de agosto, o coletivo promoveu um espaço de expressão artística no PREFEM, com a batalha de poesia falada que junta escrita e oralidade com performance corporal.
Muitos de seus poemas expressavam narrativas de amor, saudade, resistência, revolta, dor, arrependimento, fé e, principalmente, uma intensa busca por liberdade. (Foto: Gasu)
Com auxílio da professora Jocilene Lima, que faz parte dos processos de ensino no PREFEM, o coletivo já vinha fazendo um trabalho de produção literária com as alunas e muitos poemas que foram recitados saíram daí. Ao todo, competiram no Slam de poesia quatro internas, alunas PPL. As outras internas ficaram prestigiando o momento, atentas às mensagens profundas dos poemas das colegas, e algumas foram escolhidas como juradas dos poemas apresentados.
A competição é só um pretexto para que nosso povo possa se encontrar, trocar, falar, ouvir, compartilhar e aprender uns com os outros; ou seja, é um processo extremamente coletivo. Entendemos o peso disso — principalmente para nós, mulheres, que vivemos em uma sociedade que nos invisibiliza”, disse a slam-master Blenda Santos (à esquerda). (Foto: Gasú)
Por sua natureza itinerante, o projeto já rodou lugares importantes e estratégicos para o movimento Hip Hop, buscando alcançar áreas da periferia que vão além das ruas e praças da cidade; Como o Centro de Excelência Hamilton Alves Rocha, no Conjunto Eduardo Gomes, onde o Hip Hop é abordado como arte-educação, e o quilombo Maloca, no bairro Getúlio Vargas, um marco histórico de resistência ancestral. Agora, chegou ao PREFEM, um ponto central que merece atenção e visibilidade na sociedade.
Ocupar espaços com Hip Hop é fundamental, pois ele salva vidas. Enquanto se protesta nas ruas contra as violências do sistema, a presença do movimento ainda é escassa em complexos de contenção, que sustentam a "babilônia". Foto: Gasú
As slam-masters Blenda Santos e Manu Caiane conduziram a mediação do evento, enquanto a professora Catarine Campos ficou responsável pela matemática (somou a pontuação), a DJ Jolly Barreto comandou as pick ups, a artista visual e grafiteira Mariana Feitosa nos designs e eu (Gasú) capturei os momentos. E assim, o Slam das Minas, que contou com o apoio da Nação Hip Hop, ocupou o pátio do PREFEM com música, freestyle, muita arte e poesia.
Não é fácil implementar projetos que promovam o empoderamento, o diálogo, a escuta, a autoestima e a autonomia de mulheres periféricas em situação de cárcere, especialmente em uma sociedade racista e punitivista. O sistema carcerário muitas vezes não compreende, ou talvez tema, a força libertadora do Hip Hop. No entanto, é exatamente nesses espaços que precisamos nos fazer presentes. A rua é "nóis", mas quem não está na rua também deve ser lembrado.
Como disse Blenda Santos na abertura do evento: "hoje estamos felicíssimas de estarmos ocupando e dividindo esse espaço com vocês, dentro dessa lógica da importância de trazer a arte e a educação pra dentro desse lugar aqui que, infelizmente, é um lugar que convive com muitas ausências, violências, e faltas. A gente entende, como mulheres negras periféricas, e artistas, que circulam em espaços que também têm ausências institucionais, estruturais."
Blenda ainda completou que estar ali naquele encontro "antes de qualquer coisa, dialogando, se olhando olho-no-olho, e trazendo um pouco do que a gente entende como potência nessa vida, é algo muito importante.”
Fotos e texto: Gasú
Edição das fotos: Gasú
Supervisão: Tatiane Macena
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