Forró pra uns, aperreio pra outros
- Vozes do Santa
- 1 de jul.
- 2 min de leitura
Pessoas com deficiência têm acessibilidade dificultada no Complexo Cultural Gonzagão, em Aracaju

Um dos palcos mais simbólicos da cultura popular sergipana, foi reinaugurado recentemente com grande festa e um investimento público de 2 milhões de reais. O governo divulgou a obra como moderna, acessível, segura e cheia de cantinhos “instagramáveis” para agradar turistas e o povo aracajuano que ama arte, forró e tradição. Mas será que esse “novo Gonzagão” foi entregue de fato pronto pra todo mundo?
Foi com esse olhar crítico e técnico que Cristina Santos, consultora em turismo acessível e fundadora da Acessturcom, iniciou a primeira edição do Roteiro AcessAju – uma proposta que apresenta equipamentos turísticos de Aracaju sob a perspectiva da pessoa com deficiência. A ideia é simples: mostrar as potencialidades, sim, mas sem fechar os olhos para as fragilidades que ainda afastam muitos cidadãos desses espaços.
No Gonzagão, o primeiro desafio já apareceu onde menos se espera: o banheiro acessível. Na porta, uma arte bonita de uma mulher cadeirante. Mas, ao entrar, o básico que a lei exige ficou do lado de fora. Sem barras de apoio, sem placa em braille, sem sinalização clara se existe versão equivalente para homens com deficiência. Fica a dúvida: foi pensado pra ser acessível mesmo, ou só pra parecer?
E aqui cabe uma pausa para refletir sobre algo que escutamos muito por aí:
“Ah, mas já tá melhor do que era antes... pior era quando nem tinha!” Sim, pior era. Mas a gente está em pleno século XXI — e é justamente por isso que não podemos aceitar o mínimo. Não é favor, é lei. Acessibilidade não é detalhe, é obrigação. E com investimento de dois milhões, o mínimo que se espera é que se cumpra as normas técnicas.
Dizer que o Gonzagão é um espaço importante? É verdade. Valorizar o esforço de reformar um espaço cultural histórico? Claro que sim. Mas inaugurar sem garantir a inclusão de todas as pessoas é passar a régua com pressa e esquecer quem mais precisa do serviço público funcionando de verdade. É tempo de fazer bonito, não só na foto, mas no compromisso com a cidadania.
Será que esse “novo Gonzagão” foi entregue de fato pronto pra todo mundo? (Imagens: Cristina Santos - Acesstur)

Cristina Santos é empreendedora de Aracaju (SE), mestre em Turismo com ênfase em gestão, guia de turismo e consultora em acessibilidade. À frente da empresa de consultoria, turismo e acessibilidade @acessturcom, ela une formação acadêmica e experiência prática para promover o turismo acessível, denunciar barreiras e valorizar as vivências das pessoas com deficiência. Mulher com deficiência, Cristina transforma sua trajetória pessoal em força para lutar por uma sociedade mais inclusiva.
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